sábado, 28 de setembro de 2013

Francisco e a conversão pastoral

Pe. Geraldo Martins Dias

A repercussão da visita do papa Francisco ao Brasil foi surpreendente. As lições que deixou com seus gestos, palavras e silêncios ecoarão por muito tempo em nossos corações e em nossa vida. São tão numerosas e relevantes que fica difícil enumerá-las ou apontar a mais importante.

Detenho-me aos discursos que dirigiu ao episcopado brasileiro e aos dirigentes do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam). O pano de fundo de suas palavras é o Documento de Aparecida, do qual foi um dos principais redatores durante a V Conferência do Episcopado da América Latina e Caribe, realizada em Aparecida há seis anos.

Aos bispos da CNBB o papa mostrou o caminho de renovação da Igreja quando destacou que ela deve ser instrumento de reconciliação, dar espaço ao mistério de Deus, ser missionária. Quando insistiu que ela não se afaste da simplicidade; se faça companheira e vá além da escuta; que seja capaz de devolver a cidadania aos filhos de Deus e redescubra as entranhas de misericórdia.

Com delicadeza de pastor e sabedoria de mestre, sublinhou cinco desafios postos à Igreja no Brasil: formação dos leigos, religiosos, padres e bispos; colegialidade dos bispos; estado permanente de missão e conversão pastoral; função da Igreja na sociedade e a Amazônia.

Aos dirigentes do Celam, Francisco enfatizou a urgência da conversão pastoral. Fez inquietantes perguntas cujas respostas revelarão a Igreja que temos e a Igreja que queremos. As interrogações do papa têm como base a Igreja-Comunhão-Participação que nasce do Concílio Vaticano II e, na América Latina, se solidifica com Medellín e Puebla.

Questionou, por exemplo, se o trabalho da Igreja é mais administrativo que pastoral; se os leigos são realmente participantes da missão; se os problemas enfrentados pela Igreja são tratados de forma reativa ou proativa; se os Conselhos Pastorais e Econômicos das dioceses e paróquias são realmente espaço de participação e levados em conta para o discernimento pastoral; se os ministros ordenados já superaram a tentação de manipulação ou submissão em relação à missão dos leigos.

Para o papa estes questionamentos constituem a chave da conversão pastoral porque dizem respeito a atitudes. “A conversão pastoral diz respeito, principalmente, às atitudes e a uma reforma de vida”, diz o papa. Isso implica “entrar em processo” na dinâmica própria da mudança de atitudes. De acordo com Francisco, pastoral é o “exercício da maternidade da Igreja” que “gera, amamenta, faz crescer, corrige, alimenta, conduz pela mão”, daí a necessidade de ser misericordiosa. “Sem misericórdia, poucas possibilidades temos hoje de inserir-nos em um mundo de feridos que têm necessidade de compreensão, de perdão, de amor”.

A conversão pastoral exige, segundo o papa, que a Igreja deixe de ser autorreferencial e que as pastorais sejam próximas para que promovam o encontro de Deus com as pessoas e vice-versa. Além disso, é necessário vencer pelo menos três grandes tentações: a ideologização do evangelho, o funcionalismo e o clericalismo. O caminho que Francisco propõe para superação deste último é simples e bastante conhecido: Grupos Bíblicos, Comunidades Eclesiais de Base e Conselhos Pastorais.

Estas palavras do papa Francisco jogam especial luz sobre o estudo que nossas comunidades por todo o Brasil fazem do texto da CNBB “Comunidade de Comunidades: uma nova paróquia”. A renovação da paróquia que se busca terá sua efetiva concretização a partir de verdadeira conversão pastoral, que implica também na mudança de estruturas caducas.

Em boa hora Deus inspirou o papa Francisco que nos ajuda a perceber o caminho de renovação de nossas paróquias. Vale seu alerta: “a mudança de estruturas – de caducas a novas – não é fruto de um estudo de organização do organograma funcional eclesiástico, de que resultaria uma organização estática, mas é consequência da dinâmica da missão”. E ainda: “O que derruba as estruturas caducas, o que leva a mudar os corações dos cristãos é a missionariedade”.

PASCOM - Paróquia São Sebastião

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