terça-feira, 31 de dezembro de 2013

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DA PAZ

FRATERNIDADE, FUNDAMENTO E CAMINHO PARA A PAZ

1. Nesta minha primeira Mensagem para o Dia Mundial da Paz, desejo formular a todos, indivíduos e povos, votos duma vida repleta de alegria e esperança. Com efeito, no coração de cada homem e mulher, habita o anseio duma vida plena que contém uma aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros, em quem não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e abraçar.
Na realidade, a fraternidade é uma dimensão essencial do homem, sendo ele um ser relacional. A consciência viva desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se impossível a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura. E convém desde já lembrar que a fraternidade se começa a aprender habitualmente no seio da família, graças sobretudo às funções responsáveis e complementares de todos os seus membros, mormente do pai e da mãe. A família é a fonte de toda a fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor.
O número sempre crescente de ligações e comunicações que envolvem o nosso planeta torna mais palpável a consciência da unidade e partilha dum destino comum entre as nações da terra. Assim, nos dinamismos da história – independentemente da diversidade das etnias, das sociedades e das culturas –, vemos semeada a vocação a formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros. Contudo, ainda hoje, esta vocação é muitas vezes contrastada e negada nos fatos, num mundo caracterizado pela «globalização da indiferença» que lentamente nos faz «habituar» ao sofrimento alheio, fechando-nos em nós mesmos.
Em muitas partes do mundo, parece não conhecer tréguas a grave lesão dos direitos humanos fundamentais, sobretudo dos direitos à vida e à liberdade de religião. Exemplo preocupante disso mesmo é o dramático fenômeno do tráfico de seres humanos, sobre cuja vida e desespero especulam pessoas sem escrúpulos. Às guerras feitas de confrontos armados juntam-se guerras menos visíveis, mas não menos cruéis, que se combatem nos campos econômico e financeiro com meios igualmente demolidores de vidas, de famílias, de empresas.
A globalização, como afirmou Bento XVI, torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos.[1] As inúmeras situações de desigualdade, pobreza e injustiça indicam não só uma profunda carência de fraternidade, mas também a ausência duma cultura de solidariedade. As novas ideologias, caracterizadas por generalizado individualismo, egocentrismo e consumismo materialista, debilitam os laços sociais, alimentando aquela mentalidade do «descartável» que induz ao desprezo e abandono dos mais fracos, daqueles que são considerados «inúteis». Assim, a convivência humana assemelha-se sempre mais a um mero do ut des pragmático e egoísta.
Ao mesmo tempo, resulta claramente que as próprias éticas contemporâneas se mostram incapazes de produzir autênticos vínculos de fraternidade, porque uma fraternidade privada da referência a um Pai comum como seu fundamento último não consegue subsistir.[2] Uma verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. A partir do reconhecimento desta paternidade, consolida-se a fraternidade entre os homens, ou seja, aquele fazer-se «próximo» para cuidar do outro.
«Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9)
2. Para compreender melhor esta vocação do homem à fraternidade e para reconhecer de forma mais adequada os obstáculos que se interpõem à sua realização e identificar as vias para a superação dos mesmos, é fundamental deixar-se guiar pelo conhecimento do desígnio de Deus, tal como se apresenta de forma egrégia na Sagrada Escritura.
Segundo a narração das origens, todos os homens provêm dos mesmos pais, de Adão e Eva, casal criado por Deus à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26), do qual nascem Caim e Abel. Na história desta família primigénia, lemos a origem da sociedade, a evolução das relações entre as pessoas e os povos.
Abel é pastor, Caim agricultor. A sua identidade profunda e, conjuntamente, a sua vocação é ser irmãos, embora na diversidade da sua atividade e cultura, da sua maneira de se relacionarem com Deus e com a criação. Mas o assassinato de Abel por Caim atesta, tragicamente, a rejeição radical da vocação a ser irmãos. A sua história (cf. Gn4, 1-16) põe em evidência o difícil dever, a que todos os homens são chamados, de viver juntos, cuidando uns dos outros. Caim, não aceitando a predileção de Deus por Abel, que Lhe oferecia o melhor do seu rebanho – «o Senhor olhou com agrado para Abel e para a sua oferta, mas não olhou com agrado para Caim nem para a sua oferta» (Gn4, 4-5) –, mata Abel por inveja. Desta forma, recusa reconhecer-se irmão, relacionar-se positivamente com ele, viver diante de Deus, assumindo as suas responsabilidades de cuidar e proteger o outro. À pergunta com que Deus interpela Caim – «onde está o teu irmão?» –, pedindo-lhe contas da sua ação, responde: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» (Gn 4, 9). Depois – diz-nos o livro do Gênesis –, «Caim afastou-se da presença do Senhor» (4, 16).
É preciso interrogar-se sobre os motivos profundos que induziram Caim a ignorar o vínculo de fraternidade e, simultaneamente, o vínculo de reciprocidade e comunhão que o ligavam ao seu irmão Abel. O próprio Deus denuncia e censura a Caim a sua contiguidade com o mal: «o pecado deitar-se-á à tua porta» (Gn 4, 7). Mas Caim recusa opor-se ao mal, e decide igualmente «lançar-se sobre o irmão» (Gn 4, 8), desprezando o projeto de Deus. Deste modo, frustra a sua vocação original para ser filho de Deus e viver a fraternidade.
A narração de Caim e Abel ensina que a humanidade traz inscrita em si mesma uma vocação à fraternidade, mas também a possibilidade dramática da sua traição. Disso mesmo dá testemunho o egoísmo diário, que está na base de muitas guerras e injustiças: na realidade, muitos homens e mulheres morrem pela mão de irmãos e irmãs que não sabem reconhecer-se como tais, isto é, como seres feitos para a reciprocidade, a comunhão e a doação.
«E vós sois todos irmãos» (Mt 23, 8)
3. Surge espontaneamente a pergunta: poderão um dia os homens e as mulheres deste mundo corresponder plenamente ao anseio de fraternidade, gravado neles por Deus Pai? Conseguirão, meramente com as suas forças, vencer a indiferença, o egoísmo e o ódio, aceitar as legítimas diferenças que caracterizam os irmãos e as irmãs?
Parafraseando as palavras do Senhor Jesus, poderemos sintetizar assim a resposta que Ele nos dá: dado que há um só Pai, que é Deus, vós sois todos irmãos (cf. Mt 23, 8-9). A raiz da fraternidade está contida na paternidade de Deus. Não se trata de uma paternidade genérica, indistinta e historicamente ineficaz, mas do amor pessoal, solícito e extraordinariamente concreto de Deus por cada um dos homens (cf. Mt 6, 25-30). Trata-se, por conseguinte, de uma paternidade eficazmente geradora de fraternidade, porque o amor de Deus, quando é acolhido, torna-se no mais admirável agente de transformação da vida e das relações com o outro, abrindo os seres humanos à solidariedade e à partilha ativa.
Em particular, a fraternidade humana foi regenerada em e por Jesus Cristo, com a sua morte e ressurreição. A cruz é o «lugar» definitivo de fundação da fraternidade que os homens, por si sós, não são capazes de gerar. Jesus Cristo, que assumiu a natureza humana para redimi-la, amando o Pai até à morte e morte de cruz (cf. Fl 2, 8), por meio da sua ressurreição constitui-nos como humanidade nova, em plena comunhão com a vontade de Deus, com o seu projeto, que inclui a realização plena da vocação à fraternidade.
Jesus retoma o projeto inicial do Pai, reconhecendo-Lhe a primazia sobre todas as coisas. Mas Cristo, com o seu abandono até à morte por amor do Pai, torna-Se princípio novo e definitivo de todos nós, chamados a reconhecer-nos n’Ele como irmãos, porque filhos do mesmo Pai. Ele é a própria Aliança, o espaço pessoal da reconciliação do homem com Deus e dos irmãos entre si. Na morte de Jesus na cruz, ficou superada também a separação entre os povos, entre o povo da Aliança e o povo dos Gentios, privado de esperança porque permanecera até então alheio aos pactos da Promessa. Como se lê na Carta aos Efésios, Jesus Cristo é Aquele que reconcilia em Si todos os homens. Ele é a paz, porque, dos dois povos, fez um só, derrubando o muro de separação que os dividia, ou seja, a inimizade. Criou em Si mesmo um só povo, um só homem novo, uma só humanidade nova (cf. 2,14-16).
Quem aceita a vida de Cristo e vive n’Ele, reconhece Deus como Pai e a Ele Se entrega totalmente, amando-O acima de todas as coisas. O homem reconciliado vê, em Deus, o Pai de todos e, consequentemente, é solicitado a viver uma fraternidade aberta a todos. Em Cristo, o outro é acolhido e amado como filho ou filha de Deus, como irmão ou irmã, e não como um estranho, menos ainda como um antagonista ou até um inimigo. Na família de Deus, onde todos são filhos dum mesmo Pai e, porque enxertados em Cristo, filhos no Filho, não há «vidas descartáveis». Todos gozam de igual e inviolável dignidade; todos são amados por Deus, todos foram resgatados pelo sangue de Cristo, que morreu na cruz e ressuscitou por cada um. Esta é a razão pela qual não se pode ficar indiferente perante a sorte dos irmãos.
A fraternidade, fundamento e caminho para a paz
4. Suposto isto, é fácil compreender que a fraternidade é fundamento e caminho para a paz. As Encíclicas sociais dos meus Predecessores oferecem uma ajuda valiosa neste sentido. Basta ver as definições de paz da Populorum progressio, de Paulo VI, ou da Sollicitudo rei socialis, de João Paulo II. Da primeira, apreendemos que o desenvolvimento integral dos povos é o novo nome da paz[3] e, da segunda, que a paz é opus solidaritatis, fruto da solidariedade.[4]
Paulo VI afirma que tanto as pessoas como as nações se devem encontrar num espírito de fraternidade. E explica: «Nesta compreensão e amizade mútuas, nesta comunhão sagrada, devemos (…) trabalhar juntos para construir o futuro comum da humanidade».[5] Este dever recai primariamente sobre os mais favorecidos. As suas obrigações radicam-se na fraternidade humana e sobrenatural, apresentando-se sob um tríplice aspecto: o dever de solidariedade, que exige que as nações ricas ajudem as menos avançadas; o dever de justiça social, que requer a reformulação em termos mais corretos das relações defeituosas entre povos fortes e povos fracos; o dever de caridade universal, que implica a promoção de um mundo mais humano para todos, um mundo onde todos tenham qualquer coisa a dar e a receber, sem que o progresso de uns seja obstáculo ao desenvolvimento dos outros.[6]
Ora, da mesma forma que se considera a paz como opus solidarietatis, é impossível não pensar que o seu fundamento principal seja a fraternidade. A paz, afirma João Paulo II, é um bem indivisível: ou é bem de todos, ou não o é de ninguém. Na realidade, a paz só pode ser conquistada e usufruída como melhor qualidade de vida e como desenvolvimento mais humano e sustentável, se estiver viva, em todos, «a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum».[7] Isto implica não deixar-se guiar pela «avidez do lucro» e pela «sede do poder». É preciso estar pronto a «“perder-se” em benefício do próximo em vez de explorá-lo, e a “servi-lo” em vez de oprimi-lo para proveito próprio (…). O “outro” – pessoa, povo ou nação – [não deve ser visto] como um instrumento qualquer, de que se explora, a baixo preço, a capacidade de trabalhar e a resistência física, para abandoná-lo quando já não serve; mas sim como um nosso “semelhante”, um “auxílio”».[8]
solidariedade cristã pressupõe que o próximo seja amado não só como «um ser humano com os seus direitos e a sua igualdade fundamental em relação a todos os demais, mas [como] a imagem viva de Deus Pai, resgatada pelo sangue de Jesus Cristo e tornada objeto da ação permanente do Espírito Santo»,[9] como um irmão. «Então a consciência da paternidade comum de Deus, da fraternidade de todos os homens em Cristo, “filhos no Filho”, e da presença e da ação vivificante do Espírito Santo conferirá – lembra João Paulo II – ao nosso olhar sobre o mundo como que um novo critério para interpretá-lo»,[10] para transformá-lo.
A fraternidade, premissa para vencer a pobreza
5. Na Caritas in veritate, o meu Predecessor lembrava ao mundo que uma causa importante da pobreza é a falta de fraternidade entre os povos e entre os homens.[11] Em muitas sociedades, sentimos uma profunda pobreza relacional, devido à carência de sólidas relações familiares e comunitárias; assistimos, preocupados, ao crescimento de diferentes tipos de carências, marginalização, solidão e de várias formas de dependência patológica. Uma tal pobreza só pode ser superada através da redescoberta e valorização de relações fraternas no seio das famílias e das comunidades, através da partilha das alegrias e tristezas, das dificuldades e sucessos presentes na vida das pessoas.
Além disso, se por um lado se verifica uma redução da pobreza absoluta, por outro não podemos deixar de reconhecer um grave aumento da pobreza relativa, isto é, de desigualdades entre pessoas e grupos que convivem numa região específica ou num determinado contexto histórico-cultural. Neste sentido, servem políticas eficazes que promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas – iguais na sua dignidade e nos seus direitos fundamentais – acesso aos «capitais», aos serviços, aos recursos educativos, sanitários e tecnológicos, para que cada uma delas tenha oportunidade de exprimir e realizar o seu projeto de vida e possa desenvolver-se plenamente como pessoa.
Reconhece-se haver necessidade também de políticas que sirvam para atenuar a excessiva desigualdade de rendimento. Não devemos esquecer o ensinamento da Igreja sobre a chamada hipoteca social, segundo a qual, se é lícito – como diz São Tomás de Aquino – e mesmo necessário que «o homem tenha a propriedade dos bens»,[12]quanto ao uso, porém, «não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si mas também aos outros».[13]
Por último, há uma forma de promover a fraternidade – e, assim, vencer a pobreza – que deve estar na base de todas as outras. É o desapego vivido por quem escolhe estilos de vida sóbrios e essenciais, por quem, partilhando as suas riquezas, consegue assim experimentar a comunhão fraterna com os outros. Isto é fundamental, para seguir Jesus Cristo e ser verdadeiramente cristão. É o caso não só das pessoas consagradas que professam voto de pobreza, mas também de muitas famílias e tantos cidadãos responsáveis que acreditam firmemente que a relação fraterna com o próximo constitua o bem mais precioso.
A redescoberta da fraternidade na economia
6. As graves crises financeiras e econômicas dos nossos dias – que têm a sua origem no progressivo afastamento do homem de Deus e do próximo, com a ambição desmedida de bens materiais, por um lado, e o empobrecimento das relações interpessoais e comunitárias, por outro – impeliram muitas pessoas a buscar o bem-estar, a felicidade e a segurança no consumo e no lucro fora de toda a lógica duma economia saudável. Já, em 1979, o Papa João Paulo II alertava para a existência de «um real e perceptível perigo de que, enquanto progride enormemente o domínio do homem sobre o mundo das coisas, ele perca os fios essenciais deste seu domínio e, de diversas maneiras, submeta a elas a sua humanidade, e ele próprio se torne objeto de multiforme manipulação, se bem que muitas vezes não diretamente perceptível; manipulação através de toda a organização da vida comunitária, mediante o sistema de produção e por meio de pressões dos meios de comunicação social».[14]
As sucessivas crises econômicas devem levar a repensar adequadamente os modelos de desenvolvimento econômico e a mudar os estilos de vida. A crise atual, com pesadas consequências na vida das pessoas, pode ser também uma ocasião propícia para recuperar as virtudes da prudência, temperança, justiça e fortaleza. Elas podem ajudar-nos a superar os momentos difíceis e a redescobrir os laços fraternos que nos unem uns aos outros, com a confiança profunda de que o homem tem necessidade e é capaz de algo mais do que a maximização do próprio lucro individual. As referidas virtudes são necessárias sobretudo para construir e manter uma sociedade à medida da dignidade humana.
A fraternidade extingue a guerra
7. Ao longo do ano que termina, muitos irmãos e irmãs nossos continuaram a viver a experiência dilacerante da guerra, que constitui uma grave e profunda ferida infligida à fraternidade.
Há muitos conflitos que se consumam na indiferença geral. A todos aqueles que vivem em terras onde as armas impõem terror e destruição, asseguro a minha solidariedade pessoal e a de toda a Igreja. Esta última tem por missão levar o amor de Cristo também às vítimas indefesas das guerras esquecidas, através da oração pela paz, do serviço aos feridos, aos famintos, aos refugiados, aos deslocados e a quantos vivem no terror. De igual modo a Igreja levanta a sua voz para fazer chegar aos responsáveis o grito de dor desta humanidade atribulada e fazer cessar, juntamente com as hostilidades, todo o abuso e violação dos direitos fundamentais do homem.[15]
Por este motivo, desejo dirigir um forte apelo a quantos semeiam violência e morte, com as armas: naquele que hoje considerais apenas um inimigo a abater, redescobri o vosso irmão e detende a vossa mão! Renunciai à via das armas e ide ao encontro do outro com o diálogo, o perdão e a reconciliação para reconstruir a justiça, a confiança e esperança ao vosso redor! «Nesta óptica, torna-se claro que, na vida dos povos, os conflitos armados constituem sempre a deliberada negação de qualquer concórdia internacional possível, originando divisões profundas e dilacerantes feridas que necessitam de muitos anos para se curarem. As guerras constituem a rejeição prática de se comprometer para alcançar aquelas grandes metas econômicas e sociais que a comunidade internacional estabeleceu».[16]
Mas, enquanto houver em circulação uma quantidade tão grande como a atual de armamentos, poder-se-á sempre encontrar novos pretextos para iniciar as hostilidades. Por isso, faço meu o apelo lançado pelos meus Predecessores a favor da não-proliferação das armas e do desarmamento por parte de todos, a começar pelo desarmamento nuclear e químico.
Não podemos, porém, deixar de constatar que os acordos internacionais e as leis nacionais, embora sendo necessários e altamente desejáveis, por si sós não bastam para preservar a humanidade do risco de conflitos armados. É precisa uma conversão do coração que permita a cada um reconhecer no outro um irmão do qual cuidar e com o qual trabalhar para, juntos, construírem uma vida em plenitude para todos. Este é o espírito que anima muitas das iniciativas da sociedade civil, incluindo as organizações religiosas, a favor da paz. Espero que o compromisso diário de todos continue a dar fruto e que se possa chegar também à efetiva aplicação, no direito internacional, do direito à paz como direito humano fundamental, pressuposto necessário para o exercício de todos os outros direitos.
A corrupção e o crime organizado contrastam a fraternidade
8. O horizonte da fraternidade apela ao crescimento em plenitude de todo o homem e mulher. As justas ambições duma pessoa, sobretudo se jovem, não devem ser frustradas nem lesadas; não se lhe deve roubar a esperança de podê-las realizar. A ambição, porém, não deve ser confundida com prevaricação; pelo contrário, é necessário competir na mútua estima (cf. Rm 12, 10). Mesmo nas disputas, que constituem um aspecto inevitável da vida, é preciso recordar-se sempre de que somos irmãos; por isso, é necessário educar e educar-se para não considerar o próximo como um inimigo nem um adversário a eliminar.
A fraternidade gera paz social, porque cria um equilíbrio entre liberdade e justiça, entre responsabilidade pessoal e solidariedade, entre bem dos indivíduos e bem comum. Uma comunidade política deve, portanto, agir de forma transparente e responsável para favorecer tudo isto. Os cidadãos devem sentir-se representados pelos poderes públicos, no respeito da sua liberdade. Em vez disso, muitas vezes, entre cidadão e instituições, interpõem-se interesses partidários que deformam essa relação, favorecendo a criação dum clima perene de conflito.
Um autêntico espírito de fraternidade vence o egoísmo individual, que contrasta a possibilidade das pessoas viverem em liberdade e harmonia entre si. Tal egoísmo desenvolve-se, socialmente, quer nas muitas formas de corrupção que hoje se difunde de maneira capilar, quer na formação de organizações criminosas – desde os pequenos grupos até àqueles organizados à escala global – que, minando profundamente a legalidade e a justiça, ferem no coração a dignidade da pessoa. Estas organizações ofendem gravemente a Deus, prejudicam os irmãos e lesam a criação, revestindo-se duma gravidade ainda maior se têm conotações religiosas.
Penso no drama dilacerante da droga com a qual se lucra desafiando leis morais e civis, na devastação dos recursos naturais e na poluição em curso, na tragédia da exploração do trabalho; penso nos tráficos ilícitos de dinheiro como também na especulação financeira que, muitas vezes, assume caracteres predadores e nocivos para inteiros sistemas econômicos e sociais, lançando na pobreza milhões de homens e mulheres; penso na prostituição que diariamente ceifa vítimas inocentes, sobretudo entre os mais jovens, roubando-lhes o futuro; penso no abomínio do tráfico de seres humanos, nos crimes e abusos contra menores, na escravidão que ainda espalha o seu horror em muitas partes do mundo, na tragédia frequentemente ignorada dos emigrantes sobre quem se especula indignamente na ilegalidade. A este respeito escreveu João XXIII: «Uma convivência baseada unicamente em relações de força nada tem de humano: nela veem as pessoas coarctada a própria liberdade, quando, pelo contrário, deveriam ser postas em condição tal que se sentissem estimuladas a procurar o próprio desenvolvimento e aperfeiçoamento».[17]Mas o homem pode converter-se, e não se deve jamais desesperar da possibilidade de mudar de vida. Gostaria que isto fosse uma mensagem de confiança para todos, mesmo para aqueles que cometeram crimes hediondos, porque Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 18, 23).
No contexto alargado da sociabilidade humana, considerando o delito e a pena, penso também nas condições desumanas de muitos estabelecimentos prisionais, onde frequentemente o preso acaba reduzido a um estado sub-humano, violado na sua dignidade de homem e sufocado também em toda a vontade e expressão de resgate. A Igreja faz muito em todas estas áreas, a maior parte das vezes sem rumor. Exorto e encorajo a fazer ainda mais, na esperança de que tais ações desencadeadas por tantos homens e mulheres corajosos possam cada vez mais ser sustentadas, leal e honestamente, também pelos poderes civis.
A fraternidade ajuda a guardar e cultivar a natureza
9. A família humana recebeu, do Criador, um dom em comum: a natureza. A visão cristã da criação apresenta um juízo positivo sobre a licitude das intervenções na natureza para dela tirar benefício, contanto que se atue responsavelmente, isto é, reconhecendo aquela «gramática» que está inscrita nela e utilizando, com sabedoria, os recursos para proveito de todos, respeitando a beleza, a finalidade e a utilidade dos diferentes seres vivos e a sua função no ecossistema. Em suma, a natureza está à nossa disposição, mas somos chamados a administrá-la responsavelmente. Em vez disso, muitas vezes deixamo-nos guiar pela ganância, pela soberba de dominar, possuir, manipular, desfrutar; não guardamos a natureza, não a respeitamos, nem a consideramos como um dom gratuito de que devemos cuidar e colocar ao serviço dos irmãos, incluindo as gerações futuras.
De modo particular o sector produtivo primário, o sector agrícola, tem a vocação vital de cultivar e guardar os recursos naturais para alimentar a humanidade. A propósito, a persistente vergonha da fome no mundo leva-me a partilhar convosco esta pergunta: De que modo usamos os recursos da terra? As sociedades atuais devem refletir sobre a hierarquia das prioridades no destino da produção. De fato, é um dever impelente que se utilizem de tal modo os recursos da terra, que todos se vejam livres da fome. As iniciativas e as soluções possíveis são muitas, e não se limitam ao aumento da produção. É mais que sabido que a produção atual é suficiente, e todavia há milhões de pessoas que sofrem e morrem de fome, o que constitui um verdadeiro escândalo. Por isso, é necessário encontrar o modo para que todos possam beneficiar dos frutos da terra, não só para evitar que se alargue o fosso entre aqueles que têm mais e os que devem contentar-se com as migalhas, mas também e sobretudo por uma exigência de justiça e equidade e de respeito por cada ser humano. Neste sentido, gostaria de lembrar a todos o necessáriodestino universal dos bens, que é um dos princípios fulcrais da doutrina social da Igreja. O respeito deste princípio é a condição essencial para permitir um acesso real e equitativo aos bens essenciais e primários de que todo o homem precisa e tem direito.
Conclusão
10. Há necessidade que a fraternidade seja descoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada; mas só o amor dado por Deus é que nos permite acolher e viver plenamente a fraternidade.
O necessário realismo da política e da economia não pode reduzir-se a um tecnicismo sem ideal, que ignora a dimensão transcendente do homem. Quando falta esta abertura a Deus, toda a atividade humana se torna mais pobre, e as pessoas são reduzidas a objeto passível de exploração. Somente se a política e a economia aceitarem mover-se no amplo espaço assegurado por esta abertura Àquele que ama todo o homem e mulher, é que conseguirão estruturar-se com base num verdadeiro espírito de caridade fraterna e poderão ser instrumento eficaz de desenvolvimento humano integral e de paz.
Nós, cristãos, acreditamos que, na Igreja, somos membros uns dos outros e todos mutuamente necessários, porque a cada um de nós foi dada uma graça, segundo a medida do dom de Cristo, para utilidade comum (cf. Ef 4, 7.25; 1 Cor 12, 7). Cristo veio ao mundo para nos trazer a graça divina, isto é, a possibilidade de participar na sua vida. Isto implica tecer um relacionamento fraterno, caracterizado pela reciprocidade, o perdão, o dom total de si mesmo, segundo a grandeza e a profundidade do amor de Deus, oferecido à humanidade por Aquele que, crucificado e ressuscitado, atrai todos a Si: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 34-35). Esta é a boa nova que requer, de cada um, um passo mais, um exercício perene de empatia, de escuta do sofrimento e da esperança do outro, mesmo do que está mais distante de mim, encaminhando-se pela estrada exigente daquele amor que sabe doar-se e gastar-se gratuitamente pelo bem de cada irmão e irmã.
Cristo abraça todo o ser humano e deseja que ninguém se perca. «Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3, 17). Fá-lo sem oprimir, sem forçar ninguém a abrir-Lhe as portas do coração e da mente. «O que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve – diz Jesus Cristo –. Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22, 26-27). Deste modo, cada atividade deve ser caracterizada por uma atitude de serviço às pessoas, incluindo as mais distantes e desconhecidas. O serviço é a alma da fraternidade que edifica a paz.
Que Maria, a Mãe de Jesus, nos ajude a compreender e a viver todos os dias a fraternidade que jorra do coração do seu Filho, para levar a paz a todo o homem que vive nesta nossa amada terra.
Vaticano, 8 de Dezembro de 2013.
FRANCISCO

[1]Cf. Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 19: AAS 101 (2009), 654-655.
[2]Cf. Francisco, Carta enc. Lumen fidei (29 de Junho de 2013), 54: AAS 105 (2013), 591-592.
[3]Cf. Paulo VI, Carta enc. Populorum progressio (26 de Março de 1967), 87: AAS 59 (1967), 299.
[4]Cf. João Paulo II, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 39: AAS 80 (1988), 566-568.
[5]Carta enc. Populorum progressio (26 de Março de 1967), 43: AAS 59 (1967), 278-279.
[6]Cf. ibid., 44: o. c., 279.
[7]Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 38: AAS 80 (1988), 566.
[8] Ibid., 38-39: o. c., 566-567.
[9] Ibid., 40: o. c., 569.
[10] Ibid., 40: o. c., 569.
[11]Cf. Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de 2009), 19: AAS 101 (2009), 654-655.
[12] Summa theologiae, II-II, q. 66, a. 2.
[13] Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 69; cf. Leão XIII, Carta enc. Rerum novarum (15 de Maio de 1891), 19: ASS 23 (1890-1891), 651; João Paulo II, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 42: AAS 80 (1988), 573-574; Pont. Conselho «Justiça e Paz», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 178.
[14] Carta enc. Redemptor hominis (4 de Março de 1979), 16: AAS 61 (1979), 290.
[15]Cf. Pont. Conselho «Justiça e Paz», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 159.
[16] Francisco, Carta ao Presidente Vladimir Putin (4 de Setembro de 2013): L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 8/IX/2013), 5.
[17] Carta enc. Pacem in terris (11 de Abril de 1963), 17: AAS 55 (1963), 265.

PASCOM - Paróquia São Sebastião

FELIZ ANO NOVO, FAMÍLIA PAROQUIAL!

"Que muito se realize no ano que vai nascer"! E que Deus continue sendo o nosso principal companheiro!

Padre Mauro Lúcio
Padre Adelson Clemente
Seminaristas
CPP
PASCOM

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

COMUNIDADE SÃO DOMINGOS DE GUSMÃO


A Comunidade de São Domingos de Gusmão celebrou, neste domingo, dia 29 de dezembro, a Solenidade da Sagrada Família de Nazaré. a Celebração foi presidida pelo padre Mauro e contou também com presença dos seminaristas Rodrigo Artur e Geovani do Carmo. 



Ao início da Celebração, uma família participou representando a Sagrada Família de Nazaré. Tivemos também a participação dos jovens na proclamação das leituras e preces e de Geovane Medeiros e Juninho na música.



Na homília, o seminarista Rodrigo Artur nos deixou a seguinte mensagem: “José, pela sua fé, acolheu a manifestação de Deus em sua vida para proteger a vida de uma criança. Pela fé nós conseguimos amar, proteger e fazer tantas outras coisas a quem não tem nada para nos oferecer, pois é muito fácil acolher aquele que nos ama e tem algo para nos dar em troca. Com esse espírito, celebraremos bem a Sagrada Família".



Celebramos, assim,o último domingo deste ano de 2013 em nossa Comunidade, desejando a todos um feliz ano novo. 


Colaboraram: Valéria Mattos e Niuzeth Matos
PASCOM - Paróquia São Sebastião

COMUNIDADE SÃO LUCAS


Na última celebração de 2013, na Comunidade São Lucas, ocorrida no último dia 29, padre Adelson ressaltou, durante a sua homilia, a importância da Família, usando várias vezes a Sagrada Família (José, Maria e Jesus) como exemplo.

Ao final da Homilia, deixou a seguinte pergunta para reflexão: "Será que Jesus encontraria uma família preparada para o acolher nos dias de hoje?"
A Comunidade São Lucas gostaria de parabenizar, por mais um ano de vida, o Sr. Dejair. Também recebam nossas felicitações o Casal Márcio e Débora que comemoram seu primeiro ano de vida matrimonial.
Que Deus proporcione a todos um ano de 2014 repleto de Sabedoria, Força e Paz.

Colaboraram: Paulo César e Joseanne Ceolim
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VOCÊ JÁ TEM SEU PADROEIRO PARA 2014?

Site propõe o sorteio de um padroeiro 

para 2014

Um novo ano se aproxima e com ele novos desafios, sonhos e resoluções. Como inspiração para atingir as metas e trilhar 2014 junto com Jesus, o site “Diário de Conversão” (Conversion Diary) propõe uma ajuda extra, com a intercessão de um santo patrono.

Existem 300 nomes de santos em um banco de dados que sorteia para cada pessoa de forma aleatória um padroeiro. Quando sorteado, cada um possui uma pequena biografia, além da Ladainha de Todos os Santos.

De acordo com a dona do site, a americana Jenifer Fulwiler, a ideia de ter um santo padroeiro durante o ano é uma forma de conhecer pessoas que deram a vida por Cristo e muitas vezes ainda não são conhecidos no cotidiano. “Essa uma ótima maneira de descobrir a história fascinante de um povo santo, que você talvez ainda não esteja familiarizado”, destaca.

Para obter seu próprio patrono nesse ano, acesse o site http://www.conversiondiary.com/.

Fonte: Site Jovens Conectados - http://www.jovensconectados.org.br/site-propoe-o-sorteio-de-um-padroeiro-para-2014.html
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REFLEXÕES DE PADRE JOSÉ ANTÔNIO ACERCA DA FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA

O texto que segue foi retirado de uma página na rede social do Padre José Antônio e acreditamos que nos ajudará a viver melhor como família: 

Gente amiga; paz e bem! Há pouco tempo postei um texto que falava sobre a questão familiar e a "ditadura da felicidade". Nesta festa da Sagrada Família, que nos lembra que toda família é sagrada, penso que vale a pena (re)ler a reflexão. Se tiver um tempinho, acho que vale a pena. Eis o artigo:


“Meu filho, você não merece nada”



Pe. José Antônio de Oliveira

A premiada escritora e jornalista gaúcha Eliane Brum escreveu um texto muito interessante, que vale a pena partilhar. É sobre a maneira como a nossa geração lida com a questão da felicidade. E, naturalmente, como lida com a dor e a falta. Há algum tempo escrevi sobre este tema: a falta que faz falta. Embora conscientes de que a dor e a falta são ingredientes indispensáveis da vida, poucos conseguem encarar essa realidade. Como dizem: é a “ditadura da felicidade”; ou o “ser feliz a qualquer custo”.

O texto da Eliane toca na ferida de uma forma muito contundente. Lembra que “nossa geração está mais preparada, do ponto de vista das habilidades, mas, ao mesmo tempo, despreparada, porque não sabe lidar com frustrações”. Sabe usar bem da tecnologia, mas não sabe a importância do esforço pessoal, da luta. Conhece todas as potencialidades, mas desconhece a fragilidade da vida. Aprendeu que todos nascemos para ser felizes, mas não foi ensinado que a felicidade é também fruto do esforço, da luta e, muitas vezes, da dor.

É comum ouvir dos pais: “eu quero dar aos meus filhos o que eu não tive”. Muitos se matam para dar tudo aos filhos e evitar que sofram. Pais que super protegem. Quando esses(as) jovens chegam ao mercado de trabalho terão a ilusão de encontrar ali uma continuação de suas casas, onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Como raramente isso irá acontecer, vem a frustração, o desânimo, a sensação de infelicidade.

Muitos desconhecem que a felicidade, como a própria vida, é construção. E que, na maioria das vezes, pra se chegar lá, “é preciso ralar muito”. Terão de aprender com a vida, com as quedas e decepções, aquilo que os pais não ensinaram.

Muito forte a reflexão que a escritora faz em seguida: “Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. Há pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de tudo. E como se angustiam quando não o conseguem! É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites?”

E a visão de muitos é tão deturpada que chegam a pensar que a “genialidade” é mais importante que o esforço. Dizer que alguém é “esforçado é quase uma ofensa”. Ter de lutar, de dar duro parece a marca dos fracos. E junto com isso vem a falsa ideia de que é possível viver sem sofrer, que a dor é uma espécie de “anomalia”, que a felicidade é um direito: eu mereço ser feliz! Mas são poucos os que aprendem a lidar com a dor e as decepções. Desconhecem que ninguém consegue tudo o que quer.

É um peso cruel sobre os ombros dos pais: os filhos têm o direito de ser felizes; e cabe aos pais garantir esse direito. E os pais, tão limitados e frágeis, se sentirão culpados, sofrerão ao perceber que não dão conta do recado. Aí se arma um verdadeiro teatro: os filhos fingem felicidade, se empanturrando de coisas materiais, mais fáceis de alcançar; os pais fingem ser capazes de garantir a felicidade, mesmo sabendo que é uma mentira.

E conclui Eliane: “Os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. (...) Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa”.

Os pais deveriam entender que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”.

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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO NA MISSA DA NOITE DE NATAL, NO VATICANO

Caros irmãos e irmãs

«O povo que andava nas trevas viu uma grande luz» (Is 9, 1). Esta profecia de Isaías não cessa de nos comover, especialmente quando a ouvimos na liturgia da Noite de Natal. E não se trata apenas dum fato emotivo, sentimental; comove-nos, porque exprime a realidade profunda daquilo que somos: somos povo em caminho, e ao nosso redor – mas também dentro de nós – há trevas e luz. E nesta noite, enquanto o espírito das trevas envolve o mundo, renova-se o acontecimento que sempre nos maravilha e surpreende: o povo em caminho vê uma grande luz. Uma luz que nos faz refletir sobre este mistério: o mistério do andar e do ver.

Andar. Este verbo faz-nos pensar no curso da história, naquele longo caminho que é a história da salvação, com início em Abraão, nosso pai na fé, que um dia o Senhor chamou convidando-o a partir, a sair do seu país para a terra que Ele lhe havia de indicar. Desde então, a nossa identidade de crentes é a de pessoas peregrinas para a terra prometida. Esta história é sempre acompanhada pelo Senhor! Ele é sempre fiel ao seu pacto e às suas promessas. «Deus é luz, e n’Ele não há nenhuma espécie de trevas» (1 Jo 1, 5). Diversamente, do lado do povo, alternam-se momentos de luz e de escuridão, fidelidade e infidelidade, obediência e rebelião; momentos de povo peregrino e de povo errante.

E, na nossa história pessoal, também se alternam momentos luminosos e escuros, luzes e sombras. Se amamos a Deus e aos irmãos, andamos na luz; mas, se o nosso coração se fecha, se prevalece em nós o orgulho, a mentira, a busca do próprio interesse, então calam as trevas dentro de nós e ao nosso redor. «Aquele que tem ódio ao seu irmão – escreve o apóstolo João – está nas trevas e nas trevas caminha, sem saber para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos» (1Jo 2, 11). 

Nesta noite, como um facho de luz claríssima, ressoa o anúncio do Apóstolo: «Manifestou-se a graça de Deus, que traz a salvação para todos os homens» (Tt 2, 11). A graça que se manifestou no mundo é Jesus, nascido da Virgem Maria, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Entrou na nossa história, partilhou o nosso caminho. Veio para nos libertar das trevas e nos dar a luz. N’Ele manifestou-se a graça, a misericórdia, a ternura do Pai: Jesus é o Amor feito carne. Não se trata apenas dum mestre de sabedoria, nem dum ideal para o qual tendemos e do qual sabemos estar inexoravelmente distantes, mas é o sentido da vida e da história que pôs a sua tenda no meio de nós.

Os pastores foram os primeiros a ver esta «tenda», a receber o anúncio do nascimento de Jesus. Foram os primeiros, porque estavam entre os últimos, os marginalizados. E foram os primeiros porque velavam durante a noite, guardando o seu rebanho. Com eles, detemo-nos diante do Menino, detemo-nos em silêncio. Com eles, agradecemos ao Pai do Céu por nos ter dado Jesus e, com eles, deixamos subir do fundo do coração o nosso louvor pela sua fidelidade: Nós Vos bendizemos, Senhor Deus Altíssimo, que Vos humilhastes por nós. Sois imenso, e fizestes-Vos pequenino; sois rico, e fizestes-Vos pobre; sois omnipotente, e fizestes-Vos frágil. Nesta Noite, partilhamos a alegria do Evangelho: Deus ama-nos; e ama-nos tanto que nos deu o seu Filho como nosso irmão, como luz nas nossas trevas. O Senhor repete-nos: «Não temais» (Lc 2, 10). E vo-lo repito também eu: Não temais! O nosso Pai é paciente, ama-nos, dá-nos Jesus para nos guiar no caminho para a terra prometida. Ele é a luz que ilumina as trevas. Ele é a nossa paz. Amém.

Vaticano, 24 de dezembro de 2013
Solenidade do Natal do Senhor

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quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

MISSA DA NOITE DE NATAL NA COMUNIDADE SÃO LUCAS

Ocorreu, na Comunidade São Lucas, dia 24,  a Celebração Natalina, presidida pelo padre Luís Vidal.

Representando o nascimento do Menino Jesus, crianças entraram com a imagem que foi levada até o presépio.
Que a solidariedade, amor e felicidade, tão praticados e vividos no Natal, sejam também parte do dia a dia de todos durante o decorrer do ano.

Feliz Natal a todos e VIVA O MENINO JESUS!

Colaboraram: Joseanne Ceolin e Paulo César
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MISSA DA NOITE DO DIA 25, NA MATRIZ DE SÃO SEBASTIÃO

Centenas de pessoas participaram da última Missa do dia de Natal na Paróquia São Sebastião, que aconteceu às 19h30, na nossa Matriz, e foi presidida pelo padre Adelson e concelebrada pelo padre Arlindo.

Padre Arlindo, na homilia, pediu a todos que se alegrassem por poderem celebrar juntos a Festa da Luz e que esta Festa deve ser celebrada como a alegria do evangelho que se espalhar pelos quatro cantos da terra fazendo com que desapareça todo tipo de treva de cada coração humano. Disse também que Natal é a Festa na qual todos os povos são chamados a reconhecer-se como imagem e semelhança de Deus em Jesus Salvador e Libertador, o qual salva e liberta as dores humanas. Ao final, partilhou duas de suas experiências missionárias, na Índia e na África, nas quais sentiu de fato a luz de Cristo brilhar no povo sofrido.

A Paróquia São Sebastião, de Barbacena, renova a cada paroquiano(a) os seus sinceros votos de um feliz e santo Natal e suplica a Deus bênçãos para toda a Igreja espalhada pelo mundo.

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HOMILIA DA MISSA DO DIA 25, ÀS 9 HORAS

Hoje, às 9h, o padre Mauro Lúcio presidiu a primeira Missa do dia de Natal, conforme a programação de nossa Paróquia.

O seminarista Rodrigo Artur ressaltou, na homilia, que o maior presente a ser dado e ganho é Jesus Cristo. 

Confira a homilia na íntegra, abaixo:

CRISTO É O NOSSO MAIOR PRESENTE!

Seminarista Rodrigo Artur

Amados irmãos e irmãs,

Benditos sejam os pés do mensageiro que anuncia a paz! (Is 52,7) Benditos sejam os pés do Filho Unigênito, gerado, não criado, no qual o Pai nos constituiu como herdeiros da eterna salvação! (cf. Hb 1,2) Benditos sejam os pés de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que, desde o princípio, com o Pai, faz brilhar sobre as trevas do pecado a luz da Palavra da verdade, através de pessoas audaciosas e compromissadas com a totalidade do gênero humano! (cf. Jo 1, 1-3) Estas três frases não só resumem a liturgia de hoje, como também nos conclamam a gritar cada vez mais forte: Bendito O que hoje vem em nome do Senhor!

Sem qualquer dúvida, Cristo nascido na gruta de Belém foi, é e será sempre o maior presente do Pai a nós, mesmo que assim por vezes não O acolhamos.

Por Ele devemos procurar cada dia mais e mais conhecer, rezar e anunciar o evangelho. Com Ele está a alegria que nos motiva a viver os compromissos do amar, do responsabilizar-se, do dividir, do igualar-se, do ser mais um... Nele devemos nos envergonhar das vezes em que nos compactuamos, por interesses ou conveniência, com situações ou pessoas opressoras, desvirtuando o foco de Sua Luz Salvífica para apenas uma porção de povo. Resumindo: devíamos crer sem pormenores que por Ele, com Ele e Nele está a força que nos deve sustentar a sermos pessoas diferentes. Assim nem sempre o é...

Cabe-nos, talvez, fazer da nossa vida um constante natal, isto é, um nascer a cada dia para O acolhermos como um presente e valorizarmos a nossa vida como um presente deste Presente. Isso é possível... Viver o natal, verdadeiramente, é possível; não à luz do consumismo, da exploração e da divisão, mas à luz divina de Jesus Cristo que nasceu e deseja nascer em cada coração, a cada dia (cf. Mt 28,20). O Seu desejo pela humanidade em completo bem-estar é infinito, assim como Ele o é. Ele mesmo é que nos diz: “Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas” (Jo 12, 46). Deixemos a luz de Cristo ser a nossa luz. Deixemos a luz de Cristo nos livrar da morte eterna e dar-nos a verdadeira vida.

E peçamos ao Pai a graça de enxergarmos, nesta festa do nascimento de seu Filho, Jesus, a vida como o maior dos dons, a ponto de a desgastarmos, caso necessário, em vista do bem comum. Peçamos-Lhe, igualmente, a graça de contemplarmos, na manjedoura, a vida de Jesus na nossa vida e a nossa vida na vida de Jesus: Jesus morreu por mim, por você e pelos que não O aceitam. Se para morrer, Ele teve que nascer, então, de igual modo, Ele nasceu por mim, por você e por quem não O aceita, a fim de que nós todos tenhamos vida e vida em abundância, em plenitude (cf. Jo 10,10).

Sejamos, sim, solidários uns com os outros; mas não somente no natal. Fome, sede, frio, dor, tristeza, alegria, vontade de ganhar... existem todos os dias do ano. Que neste Natal prevaleça em nós, acima de tudo, a vontade de repartir. E que esta vontade seja um exercício constante em nossa vida, quem sabe começando neste Natal? E não se preocupe caso não tenha muito a repartir: a luz de Cristo é um bom presente...

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