Jornada Mundial: e agora?
Pe. José Antônio de Oliveira
A Jornada Mundial da Juventude, como evento, passou. Como processo, deve iniciar um longo e fecundo caminho. É hora de perguntar: o que fica? Quais os resultados e as consequências? Que frutos esperar? Que rumos assumir?
Um primeiro olhar é de gratidão e reconhecimento, por esse grande evento que marcou de maneira tão bonita a Igreja no Brasil e no mundo, as juventudes, o povo brasileiro. Foi de fato um momento forte de encontro, aprendizado, evangelização, festa, confraternização.
Foi bonito ver o rosto alegre, esperançoso, idealista e comprometido de tantos(as) jovens. Gratificante perceber o clima de respeito, de diálogo, de fé.
Foi um alento ver que o novo Pastor da Igreja Católica tem a cara do povo e o jeito de Jesus. Simples, de uma profunda espiritualidade, aberto ao diálogo, revelando a radicalidade do Evangelho, com coragem e sensibilidade para tocar nas feridas.
Por outro lado, é natural que a Jornada deixe no ar uma série de perguntas e questionamentos. E é preciso encará-los para crescer e amadurecer o processo da Jornada.
Um primeiro ponto é a questão do protagonismo da juventude. É claro que a presença carismática do Papa Francisco atraiu a atenção da mídia e do povo em geral. Isso acabou ofuscando um pouco os grandes protagonistas da Jornada, que são os jovens. E mesmo nas palestras, nos eventos, nas celebrações, nos shows, não foi de fato a juventude que estava em evidência.
Outro ponto, por sinal muito bem colocado pelo Pe. Hilário Dick, é a questão da “Pastoral de processos” e da “Pastoral de eventos”. Numa sociedade tão marcada pelo espetáculo, pelo superficial, pela estética, com pouco conteúdo e fundamento, a tentação é de ir mais na direção da pastoral dos eventos. A grande imprensa abre espaço com facilidade pra tudo aquilo que dá audiência: grandes encontros de massa, missas para multidões, mega shows de evangelização, artistas da mídia, inclusive padres. Não é à toa que quase todas as redes de rádio e televisão reservaram boa fatia de sua grade para a Jornada ou, mais especificamente, para o Papa. Se Francisco não estivesse presente, é certo que pouco se veria na mídia, inclusive nos canais de orientação católica.
Citando alguns exemplos: a “Marcha Internacional contra o Extermínio da Juventude”, no dia 26, com cerca de 2.500 pessoas, que deveria ser momento marcante da Jornada, quase não apareceu. O Ato para recordar os 20 anos da Chacina da Candelária, quando crianças e adolescentes foram brutalmente assassinados, passou em branco. As catequeses, os trabalhos vocacionais, debates etc, nada disso interessou. Não daria audiência. Não reverteria em lucro$.
Os eventos, as celebrações de massa, a presença na mídia, tudo isso é importante. Dá visibilidade, anima, contagia. Mas o que faz crescer, o que leva ao engajamento, o que se torna alicerce é, certamente, o processo silencioso e quase imperceptível do dia a dia, da luta, da reflexão.
O Papa Francisco nos alertou para isso, quando comentava sobre a transferência da celebração do Campus Fidei para Copacabana: “o verdadeiro campo da Fé somos nós”. Pe. Hilário diz que talvez Deus não tenha permitido que “a nossa aproximação com os pobres fosse, simplesmente, parte do espetáculo”.
Francisco ainda toca em algumas questões que precisam ser levadas a sério. Antes de pisar em terras brasileiras, ainda no avião, já falava que a atenção está voltada para a juventude, mas não podemos descuidar dos idosos. Cuidar (não apenas controlar) dos jovens; respeitar os mais idosos.
Lembrava que, para conhecer melhor a juventude e assumir suas lutas, a Igreja precisa se encarnar. Sair da sacristia. Ser de fato missionária, e não se contentar com a pastoral da conservação.
E falou da importância de sonhar, de ousar, de revolucionar. Jovem que não sonha já está velho. “Jovem que não protesta não me agrada”, dizia o Papa. O que nos impulsiona é a utopia: “respirar e olhar pra frente”. A experiência muitas vezes nos freia. O sonho nos empurra. “Sejam revolucionários!” Será que estamos preparados para partilhar sonhos e alimentar a utopia?
Finalmente, sinto que a eclesiologia expressa pela Jornada não foi bem a do Vaticano II e das Conferências latino-americanas. Foi muito mais eclesiologia dos movimentos pentecostais do que de comunidade; mais da estética do que da profecia; mais angelical do que humana e encarnada. Por exemplo, na celebração final de envio, os cantos foram uma oportunidade para que cada padre cantor ou artista da mídia apresentasse o seu showzinho. Músicas bonitas, mas não do povo. Faltou um grupo de animação do canto, com melodias ligadas à vida, à luta, à juventude, para que o povão pudesse soltar a voz, expressar a sua fé, o seu entusiasmo, a sua alegria de crer em Alguém que é capaz de transformar corações e dar sentido à vida. Gostaria muito de ouvir o coral de um milhão de vozes cantando: “Se é pra ir pra luta eu vou, se é pra tá presente, eu tô…”; “Somos gente nova, vivendo a união, somos povo-semente de uma nova nação…”. Seria um aperitivo do céu. Mas…
Foi muito bom! Foi bonito! Mas há um longo caminho a percorrer…
PASCOM - Paróquia São Sebastião
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