quarta-feira, 25 de março de 2015

UM DESABAFO!

Pe. Euder faz uma reflexão sobre o que tem acontecido com as instituições públicas no Brasil.



Sei que nossas instituições políticas não têm mais mesmo tanta credibilidade. Sei até que não só as instituições políticas estão sem credibilidade porque outras instituições também passam por uma profunda crise, consequência da fragmentação pós-moderna, mas quando vejo o que ocorre no cenário nacional e estadual, fico simplesmente "esbabacado". 

Embora ciente da falta de credibilidade da política, fico procurando com esperança pelo menos alguma chance de encontrar alguma matéria no jornal do outro dia que diga de uma proposta parlamentar que contemple o interesse do povo, o bem comum, mas o que vejo quando acordo: num dia, está estampado em Minas que os nossos representantes se deram mais um benefício: o auxílio-moradia, sendo que alguns deles já têm até suas propriedades na capital; no outro, no nível federal, está estampada a matéria da aprovação de passagens aéreas para as esposas dos senhores engravatados; no outro, ainda, que o valor de investimento público no fundo partidário simplesmente triplicou, passou de R$ 289 milhões para R$ 867 milhões. Os nobres deputados também aprovaram R$ 2,3 bilhões para emendas de deputados novos além, é claro, de terem aprovado, no final do ano passado, o aumento do próprio salário (bem como dos senadores, dos ministros do Supremo Tribunal Federal e do procurador -geral da República) de R$ 26,7 mil para R$ 33,7 mil por mês para ser pago a partir de janeiro deste ano. Diga-se de passagem que é um salário maior do que o aprovado para a presidente da República, que passa a receber o valor de R$ 30,9 mil mensais.

 

Estou aqui especialmente me referindo ao que tem feito com o povo brasileiro o nosso Legislativo: não há palavras nem para descrever essa total indiferença da parte de seus membros ao grito da sociedade que não se vê mais representada por essa classe, aparentemente treinada para tratar de seus próprios interesses. Mas, lamento profundamente também o que tem ocorrido no nível do Executivo. Afinal, interesses estranhos aos nossos interesses concretos estão bailando no Palácio e na Câmara. Há quem defenda nos últimos dias o impeachment da Presidente. Sinceramente, numa situação dessas, num caos que estamos vivendo politicamente, defender ou apoiar um impeachment da representante do Executivo parece ser a possibilidade mais fácil ou quem sabe, diria, o recurso mais imediato para não enfrentar a nós mesmos. Encontrar um "bode expiatório" e culpá-lo de toda a nossa incapacidade de escolher representantes com racionalidade e não movidos pelas mentiras que se tornaram o marketing de uma campanha eleitoral. Mentir na campanha se tornou uma "qualidade" do bom candidato. Pois, se um candidato dissesse a verdade, se apontasse a crise em que se vive, nunca seria eleito. 

Na verdade, a verdade é o que se esconde e o que se mostra não é o fenômeno da realidade, mas a "máscara" que reinventa a realidade segundo o que agrada quem quer se iludir. Parabéns aos marqueteiros. Eles ganham rios de dinheiro para oferecer ao povo brasileiro o que ele quer ver e ouvir de uma realidade do Brasil que não existe seja na campanha de um ou de outro candidato. O paraíso não era propriedade nem deste nem daquele candidato. Ele era dos marqueteiros. Eles é que ganham a campanha. Ganham oferecendo o melhor ritmo, a melhor aparência de realidade, as mentiras mais bem camufladas de verdade. É difícil dizer isso: mas se seguimos esse caminho, vamos padecer! Não é a toa que o ditado nos recorda. “Quando a cabeça não pensa, o corpo padece”. Já estamos padecendo: a falta de o mínimo de bom senso da parte dos nossos representantes e até de parte do nosso Judiciário nos coloca diante de nossa própria ignorância. 

Queria sim o impeachment. O impeachment do brasileiro que nasceu nas nossas casas, cresceu e não aprendeu a ser gente, prefere a si e não se preocupa com a dor do outro. Queria o impeachment do brasileiro, que nasceu em nossas casas, cresceu, se formou e usa de seu diploma apenas para explorar o outro e oprimi-lo, mas nunca se coloca a serviço de ninguém. Queria o impeachment do brasileiro que nasceu em nossas casas, cresceu e se tornou indiferente aos problemas sociais, frio nas relações com os outros, preocupado apenas em “ficar mais rico” e que é incapaz de partilhar um pedaço de pão com o outro. Queria o “impeachment” de todos os representantes políticos que nasceram nas nossas casas, cresceram politicamente por interesses pessoais, se consolidaram como nossos “caciques” representantes, mas nunca foram políticos de verdade. 

É triste. Mas estes mais de 500 deputados, estes não sei quantos políticos espalhados nesse nosso Brasilsão (nível federal, estadual e municipal) são todos provenientes das nossas comunidades, das nossas famílias. Votam no que querem para si hoje porque já se formaram indiferentes ao outro. Foram formados para serem assim, gente fria, insensível e desumana. Há sempre exceções. Mas exceções são sempre raras, raríssimas. Mas existem. O elemento mais difícil é promover estas exceções e cortar pela raiz o mal que hoje reside na maioria. IMPEACHMENT para todos nós que julgamos os políticos e não mudamos a nós mesmos, nossas famílias, educando-nos para a partilha, para a justiça, para a sensibilidade com o outro. IMPEACHMENT para todos os políticos, que são atualmente verdadeira expressão daquela parte corrupta e egoísta do ser humano.

Queria ver a Câmara vazia para um recomeço. Queria ver o Brasil consternado com a renúncia de todos os parlamentares, senadores e de todo o pessoal do governo para ver brasileiros "nada políticos", segundo a perspectiva dos marqueteiros, se tornarem nossos representantes. Ou tudo mudaria ou tudo permaneceria tal e qual. Tudo dependeria muito desses brasileiros, você ou eu, termos nos formado fundados em princípios e valores comunitários, fraternos e transcendentes ou termos nos formado como os que aí já estão, fechados em nós mesmos, preocupados com nós mesmos e voltados para o "nosso umbigo". Cansei... o problema não é o outro. Somos nós mesmos. 

Euder Daniane C. Monteiro. 
Sacerdote, professor de Filosofia na Faculdade Arquidiocesana de Mariana
22/03/2015

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