Dom José Aberto Moura
Arcebispo de Montes Claros (MG)
Muitas vezes se fala em Igreja como sendo a hierarquia da mesma. No entanto, a grande maioria de seus membros é composta de cristãos leigos e leigas, que dão suporte à vida cristã na família, na própria comunidade religiosa, no mundo civil, como na economia, na mídia e na política.
Leigo ou leiga é quem assume sua fé, com o compromisso do batismo, para seguir a Jesus Cristo, imitando-o e promovendo a cidadania em todas as situações, com os valores humanos, éticos e cristãos. Sua adesão de vontade e esforço passa pela ligação fé-vida. Os atos religiosos, orantes, litúrgicos, de estudo e ensino da Palavra de Deus são força vitalizante de seu modo de vida. Não usa da relação com Deus e a comunidade cristã só no sentido vertical e intimista. Ao contrário, fortalece-se espiritualmente para atuar em todos os campos, ajudando a sociedade na promoção da vida e da dignidade humana, com os critérios do Evangelho. No mundo familiar atua no desenvolvimento das relações pessoais com a prática do amor e dos ensinamentos da Igreja. Nas atividades profissionais e de serviço ao bem comum, como a comunicação e a política, usa dos valores humanos e éticos, iluminados pelo Evangelho, para promover a justiça e o benefício da sociedade. Não se conforma com a corrupção, a imoralidade e a injustiça. Luta por causas de inclusão social e de ajuda para quem é discriminado e diminuído como pessoa humana.
O Concílio Vaticano II apresenta a autonomia dos campos da política e da Igreja, mas com o trabalho de ambas, em sua vocação específica, de atuarem para o bem comum. Ressalta o papel da Igreja “pregando a verdade evangélica e iluminando todos os setores da atividade humana pela sua doutrina, pelo testemunho dos fiéis cristãos” (Alegria e Esperança – “Gaudium et Spes”, n.o 76,3). Entre seus membros, a Igreja ressalta o papel proeminente dos leigos na sociedade, onde devem exercer o apostolado “a modo de fermento no mundo” (Apostolados dos Leigos – “Apostolicam Actuositatem”, n.o 2,2).
Mais do que nunca precisamos de leigos que atuem realmente na política, também partidária, com sua verdadeira vocação de transformação da mesma. Há cristãos que vão à política e fazem o inverso do que é ético e cristão. Felizmente há os que lutam com sua presença de real valor e ideal cristãos. São eleitos com o voto dos cidadãos e não traem os eleitores. Mas precisamos aumentar o número desses que vão à política não para ganhar dinheiro e sim para ganhar em altivez de caráter, seguindo sua vocação cristã de realmente contribuírem com a promoção do bem , da justiça e da inclusão social, seja no legislativo, seja no executivo. Precisamos também, e muito, que o mesmo aconteça no judiciário!
Neste fim do Ano Litúrgico, coroado com a festa do Cristo Rei, louvamos a Deus pelos leigos e leigas que sustentam a evangelização e a verdadeira família cristã. São verdadeiros pára-raios da sociedade no mundo do trabalho, da economia, da cultura, da ciência, da comunicação e da política, enfim, do mundo civil! Eles e elas implantam o Reino de Deus em todas as situações, mesmo sendo bastante incompreendidos e perseguidos, justamente porque são retos, ética e moralmente falando! Conforme lembra João Evangelista, “Jesus fez de nós um reino de sacerdotes para seu Deus e Pai, a ele a glória e o poder, em eternidade” (Apocalipse 1,6). Assim, todos somos, com Ele, sacerdotes, para ajudarmos a implantar o seu Reino de justiça e paz!
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