segunda-feira, 10 de março de 2014

EM BUSCA DO LUXO

Padre José Antônio de Oliveira
Em nossa cultura, o luxo sempre chamou a atenção. Na própria Igreja Católica, sobretudo na Idade Média, as construções, as vestimentas e até o rito se revestiam de luxo e ostentação.
E o que caracteriza o luxo? Sobretudo a raridade e o desejo de impressionar o olhar do outro. Não é tanto o que faz bem, mas o que impressiona e causa inveja.
Porém, segundo alguns estudiosos, essa realidade tende a mudar. Em primeiro lugar, o maior objeto de desejo de muitos já não é ter coisas, ajuntar bens, mas a qualidade de vida. Contardo Calligaris diz que os objetos de luxo estão se tornando “bregas” e as pessoas estão optando por um estilo mais despojado. E conclui: “Meu luxo é que vivo de verdade”.
Nesse sentido, é muito interessante a reflexão que faz o sociólogo italiano Domenico De Masi, que propaga o chamado ‘ócio criativo’. Segundo ele, o luxo moderno continua se caracterizando pela raridade, ou seja, poucos têm acesso a ele, mas mudou muito de foco. No seu entender, as maiores riquezas do mundo moderno são: tempo, autonomia, silêncio, beleza e espaço. Tal afirmação encontra-se no livro de Jorge Forbes, Você quer o que deseja?
Achei muito interessante a sua colocação. Uma das grandes reclamações que se ouve ultimamente é que não temos tempo pra nada, que o tempo está passando muito depressa. O que se vê é muita correria para pouco resultado, muita pressa, muita agitação, estresse, sobrecarga… Poucos conseguem parar, curtir, ruminar. Quem se dá ao luxo de contemplar uma criança, o sol que nasce ou se põe, a lua, uma flor que desabrocha, a chuva que cai, para curtir uma boa música, ver um bom filme, ler uma poesia ou um romance, gastar tempo jogando conversa fora… Quem consegue reservar um momento do dia para uma oração serena, a meditação, a leitura orante da Bíblia? Ter tempo e, sobretudo, saber usar bem o tempo, é mesmo um luxo para poucos.
A autonomia está ligada à não-dependência, à segurança, à individualidade, à liberdade de ir e vir, de se expressar. Não se trata, é claro, de autossuficiência, pois somos todos interdependentes. Precisamos uns dos outros. Mas, como faz bem ter autonomia, ter liberdade, ser a gente mesmo!
Gosto muito daquela oração que diz: “Senhor, no silêncio deste dia que amanhece, venho te pedir a paz…”. Ultimamente tenho rezado assim: Senhor, na beleza deste dia… Porque silêncio se tornou mesmo um luxo. É pra muito poucos. Pelo menos o silêncio externo. E há muita coisa para dificultar também o silêncio interior. Mesmo pra quem vive no ‘interior’… E o pior é que nos acostumamos tanto com o barulho que o silêncio agora já incomoda. Se não há algum ruído nós inventamos. Ou ligamos o som, ou a TV, ou falamos ‘abobrinhas’, mas em silêncio não dá… Mesmo nas celebrações, os momentos de silêncio vão se reduzindo, ou os preenchemos com algum ‘fundo musical’. E como faz bem o silêncio! Como é necessário!
O quarto luxo é a beleza. Porém, o que significa essa palavra? No livro que li, apenas estão citadas as cinco riquezas. Não há uma explicação. Assim, não sei qual o sentido que De Masi dá à palavra. Do ponto de vista religioso, beleza pode significar o lugar onde Deus brilha.  Na prática, entendemos que se trata de tudo aquilo que nos enche os olhos e o coração, que faz bem. Feliz de quem pode conviver com o belo e expressar a beleza! Na arte, na natureza, na música, nas pessoas, na vida, no sentimento, com um pouco de sensibilidade, sempre poderemos encontrar o belo. “A beleza existe em tudo: tanto no bem como no mal. Mas somente os artistas e poetas sabem encontrá-la” (Charles Chaplin).
Finalmente, o espaço. Também não sei em que sentido foi usado. Mas sei que todos queremos ter o nosso espaço. Queremos ter um lugar na vida, na sociedade, na família. Espaço para trabalhar, divertir, relacionar, amar, chorar, silenciar, brigar, falar… para viver. Sonhamos com o nosso cantinho e em ter um cantinho no coração das pessoas. Sonhamos com um lugar no céu, ou em fazer do lugar onde estamos um paraíso.
Não é difícil perceber que essas riquezas valem mais que as coisas materiais, prestígio, luxo, influência. Não são para ser vistas e admiradas ou invejadas. Mas dão qualidade e sentido à vida.
Naturalmente, muitas dessas coisas não dependem só de nós. Mas, em grande parte, são também fruto das escolhas que fazemos. “Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”, diz Jesus (Mt 6,21).

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