sexta-feira, 14 de março de 2014

PAPA FRANCISCO "ROUBOU" O NOSSO CORAÇÃO

CARDEAL RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS 

ARCEBISPO DE APARECIDA (SP) E PRESIDENTE DA CNBB

Há um ano, no dia 13 de março de 2013, o Cardeal Jorge Mario Bergoglio, foi eleito Papa, o 266º sucessor de Pedro. Um ano é um período muito curto para falar do seu pontificado, mas oPapa Francisco preencheu os primeiros 12 meses de modo tão intenso, que chega a dar impressão de um tempo muito mais longo.
Não é fácil avaliar o pontificado de um Papa do qual estamos tão próximo. Vou referir-me a três pontos que podem nos ajudar a compreender melhor esse pontificado: o que ele tem transmitido pelos gestos e sinais, o que ele tem dito e o que ele tem realizado.
Comecemos pelos gestos e sinais. Francisco sempre surpreende. Começou no dia mesmo da eleição. A maneira como saudou e rezou com o povo, reunido na Praça de São Pedro: “e agora, eu gostaria de vos dar a bênção, mas antes peço um favor: antes que o bispo abençõe o povo, eu vos peço de rezar ao Senhor para que ele me abençoe: a oração do povo pedindo a bênção para seu Bispo. Façamos esta oração em silêncio: de todos vós sobre mim”; o uso de um micro-ônibus no lugar do carro oficial, no primeiro dia de Papa; a decisão de residir na Casa de Santa Marta e não no Palácio Apostólico.
Ele tem também uma maneira especial de se comunicar com as pessoas: escreve cartas, chama pelo telefone, faz visitas. Mereceu destaque a visita feita no primeiro dia de pontificado para pagar pessoalmente sua conta na Casa Internacional, onde esteve hospedado antes do Conclave que o elegeu.
Sua viagem a Lampedusa, ao cárcere de menores, ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Tudo isso mostra um Papa que escolheu um estilo muito pessoal, próprio do pastor, de exercer o seu ministério de sucessor de Pedro. E a marca desse estilo é a simplicidade, a alegria, a proximidade e amor às pessoas, sobretudo, aos mais pobres. Esses seus gestos conferem uma força extraordinária ao que ele diz.
O que o Papa Francisco tem dito. As falas são simples, diretas, vigorosas. À sociedade, ele fala da ética, posicionando-se na defesa dos pobres, migrantes, anciãos e crianças. Recorda a todos que, em primeiro lugar, está a dignidade da pessoa e é a partir dela que se deve pensar e planejar a economia e fazer política.
À Igreja, ele fala de sair de si mesma, de ir às periferias existenciais e físicas. Quer uma Igreja como “hospital de campanha”, onde as pessoas são acolhidas, acompanhadas, curadas de suas feridas e amadas. Na missa diária de um Papa, pela primeira vez, as homilias são divulgadas e abrem um canal de comunicação cotidiano entre o Papa e a Igreja.
O que o Papa Francisco tem realizado. Ele tem afirmado que os cardeais o elegeram esperando que fizesse as reformas esperadas. Começou com a instituição do Grupo dos 8 Cardeais para ajudá-lo na reforma da Cúria e no governo da Igreja. Em seguida, voltou-se para o IOR – Instituto para as Obras de Religião – conhecido como o Banco do Vaticano.
Dos quatro textos legislativos publicados, três tratam de questões econômicas e não só na Igreja: prevenção e combate à lavagem de dinheiro; financiamento do terrorismo e à proliferação de armas de destruição de massa; aprovação do novo Estatuto da Autoridade de Informação Financeira do Vaticano para prevenir e combater possíveis atividades ilegais no campo financeiro; e, recentemente, a criação do Conselho e de uma Secretaria para supervisionar e coordenar as atividades administrativas-econômicas da Santa Sé e do Estado do Vaticano.
A reforma da Cúria está sendo estudada com cuidado e sem pressa. O Papa Francisco tem falado que a reforma da Cúria, por mais importante que seja, é um dos aspectos da reforma de que a Igreja necessita. Fundada por homens e mulheres, santa e pecadora, a Igreja para ser fiel à sua vocação precisa purificar-se cada dia e buscar sem cessar o rosto de Cristo. A verdadeira reforma, portanto, é espiritual e pastoral.
Deste primeiro ano de Pontificado de Francisco, uma semana foi vivida no Brasil, de 22 a 29 de julho de 2013. Somos testemunhas, nós brasileiros, da força de suas palavras e de seu coração de pastor. Sua simplicidade, seu sorriso, suas palavras diretas, incisivas, sua proximidade às pessoas conquistaram não só os jovens da Jornada Mundial da Juventude, mas todo o povo brasileiro.
O Papa Francisco tem razão quando disse: “os brasileiros 'roubaram' meu coração”. A recíproca também, é verdadeira, Papa Francisco: foi o senhor quem primeiro "roubou” o nosso coração.

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