Relatório sinodal é documento de trabalho, não é definitivo
O “Relatório após discussão” do
Sínodo extraordinário dedicado à família é um documento de trabalho, não
definitivo, que a partir de então é submetido à discussão dos Círculos
menores: foi a declaração difundida nesta terça-feira, dia 14, pela
Secretaria Geral do Sínodo na coletiva realizada na Sala de Imprensa da
Santa Sé, moderada pelo porta-voz vaticano, Padre Federico Lombardi.
Participaram da coletiva também o
prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, Cardeal Fernando
Filoni; e o arcebispo de Durban (África do Sul), Cardeal Wilfrid Fox
Napier, na qualidade de moderadores dos Círculos menores em italiano e
inglês.
“A Secretaria Geral do Sínodo, após as
reações e discussões que se seguiram à publicação da Relatio
post-disceptationem e ao fato de a sua natureza nem sempre ter sido
corretamente compreendida, reitera que tal texto é um documento de
trabalho que resume os pronunciamentos e o debate da primeira semana e
que agora é proposto à discussão dos membros do Sínodo nos Círculos
menores, como prevê o Ordo do Sínodo”, disse padre Federico Lombardi.
Portanto, o relatório não é um documento
definitivo. Agora se trabalha nos Círculos menores, que apresentarão,
cada um, uma reflexão própria e, depois, se fará o esboço dos documentos
finais. O Cardeal Filoni disse ter havido alguma surpresa nos Círculos
menores ao ler as primeiras reações que surgiram na mídia. “Houve
reações em que alguém manifestou inclusive uma certa perplexidade, como
se o Papa tivesse dito, como se o Sínodo tivesse decidido… Naturalmente,
isso não é verdade”, afirmou Filoni.
Filoni disse não ter sido um erro
publicar o Relatório, o que foi feito em continuidade com os Sínodos
precedentes e segundo o procedimento sancionado pelo Ordo do Sínodo dos
Bispos. Porém, observou, o essencial é entrar na perspectiva dinâmica,
sem expectativas excessivas, mesmo porque o Sínodo atual é um caminho de
preparação para a Assembleia Geral Ordinária de outubro de 2015.
“Espero que se colha bem, sobretudo, esta dinâmica, em que toda a Igreja
é envolvida – em vários níveis, de vários modos, em vários aspectos –,
porque parece quase que tratamos de um tema ou de outro, quando, ao
invés, há uma riqueza extraordinária.”
Na mesma linha, o Cardeal Napier se
disse “confiante” de que possa emergir a visão do Sínodo em seu
conjunto, e não a posição de um grupo particular.
A Sala de Imprensa da Santa Sé divulgou
também o conteúdo dos pronunciamentos livres feitos na manhã da
segunda-feira, na Sala do Sínodo, após a apresentação da “Relatio
post-disceptationem” feita pelo relator-geral do Sínodo, Cardeal Peter
Erdő. Em geral, o relatório foi apreciado em sua capacidade de colher o
espírito da Assembleia.
Além disso, foram sugeridas ulteriores
reflexões. Por exemplo, falar mais difusamente também sobre as famílias
fiéis aos ensinamentos do Evangelho, a fim de que possa emergir com mais
clareza que o matrimônio indissolúvel, feliz, fiel para sempre, é
bonito, é possível e está presente na sociedade.
Outras sugestões: dar maior atenção à
tutela da mulher e da sua importância para a transmissão da vida e da
fé, fazer mais referências à família como “Igreja doméstica”,
valorizando sua perspectiva missionária no mundo de hoje.
Aprofundar e esclarecer melhor o tema da
“gradualidade”, que pode ser motivo de uma série de confusões. No que
tange ao acesso aos Sacramentos para os divorciados recasados, por
exemplo, foi dito que é difícil acolher exceções sem que na realidade se
tornem uma regra comum.
Foi também destacado que a palavra
“pecado” quase não está presente no Relatório. No que diz respeito aos
homossexuais, o necessário acolhimento deve ser acompanhado pela justa
prudência, a fim de que não se crie a impressão de uma avaliação
positiva de tal orientação por parte da Igreja. A mesma atenção foi
solicitada em relação às convivências.
No que concerne à simplificação dos
procedimentos das causas de nulidade matrimonial, foi manifestada alguma
perplexidade em relação à proposta de confiar maiores competências ao
bispo diocesano, colocando um peso a mais em suas costas. Além disso,
foi auspiciada uma reflexão mais aprofundada no caso da poligamia e da
difusão da pornografia na web, risco real para a unidade familiar.
Por fim, em relação à abertura para a
vida por parte dos casais foi ressaltada a necessidade de abordar de
modo mais aprofundado e decidido não somente o tema do aborto, mas
também o da maternidade substitutiva.
15 outubro, 2014
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