domingo, 2 de fevereiro de 2014

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO, HOJE, NA FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR E POR OCASIÃO DO DIA MUNDIAL DA VIDA CONSAGRADA

Queridos irmãos e irmãs!
Em seu relato sobre a infância de Jesus, São Lucas enfatiza como Maria e José eram fiéis à Lei do Senhor. Com profunda devoção eles realizam tudo o que é prescrito após o nascimento de um primogênito do sexo masculino. Trata-se de duas prescrições muito antigas: uma se refere à mãe e a outra à criança recém-nascida. Para a mulher é prescrito que se abstenha por quarenta dias das práticas rituais; depois disso deve oferece um duplo sacrifício; um cordeiro em holocausto e uma rola ou uma pomba pelo pecado; mas se a mulher é pobre, pode oferecer duas rolas ou duas pombas (cf. Lv 12:1-8). São Lucas afirma que Maria e José ofereceram o sacrifício dos pobres (cf. 2,24), para mostrar que Jesus nasceu em uma família de gente simples, humilde mas muito crente: de uma família pertencente aos pobres de Israel, que formam o verdadeiro povo de Deus. Para o filho primogênito, que, segundo a Lei de Moisés é propriedade de Deus, era, ao invés, prescrito o resgate, definido na oferta de cinco siclos – moedas -, a ser pago a um sacerdote em qualquer lugar. Isto em perene recordação do fato que, na época do Êxodo, Deus poupou os primogênitos dos hebreus (cf. Ex 13,11-16).
É importante notar que, para esses dois atos – a purificação da mãe e o resgate do filho – não era necessário ir ao Templo. Em vez disso, Maria e José, desejam fazer tudo em Jerusalém, e São Lucas mostra como toda a cena vai convergir no Templo, e portanto se focaliza em Jesus que entra. E eis, que, precisamente através das prescrições da Lei, o evento principal torna-se outro, isto é, a “apresentação” de Jesus no Templo de Deus, o que significa o ato de oferecer o Filho do Altíssimo ao Pai que o enviou (Lc 1,32.35).
Esta narrativa do Evangelista está refletida nas palavras do profeta Malaquias que ouvimos no início da primeira leitura: "Assim diz o Senhor Deus: Vejam! Estou mandando o meu mensageiro para preparar o caminho à minha frente. De repente, vai chegar ao seu Templo o Senhor que vocês procuram, o mensageiro da Aliança que vocês desejam…vai purificar os filhos de Levi… para que possam apresentar ao Senhor uma oferta que seja de acordo com a justiça". (3,1.3).
Claramente, aqui não se fala de uma criança, e todavia esta palavra se cumpre em Jesus, porque "imediatamente", graças à fé de seus pais, Ele foi levado ao Templo; e no ato de sua "apresentação", ou a sua "oferta" pessoal a Deus Pai, deixa claro o tema do sacrifício e do sacerdócio, como na passagem do profeta. O menino Jesus, que é imediatamente apresentado no Templo, é o mesmo que, depois de adulto, purificará o Templo (cf. Jo 2,13-22, Mc 11,15,19 e par.) e sobretudo fará de si mesmo o sacrifício e o sumo sacerdote da Nova Aliança.
Esta é também a perspectiva da Carta aos Hebreus, da qual foi proclamada um trecho na segunda Leitura, e assim o tema do novo sacerdócio é reforçado: um sacerdócio – o inaugurado por Jesus – que é existencial: "Precisamente por ter sido colocado à prova e ter sofrido pessoalmente, ele é capaz de vir em auxílio daqueles que padecem a prova "(Hebreus 2:18). E assim encontramos também o tema do sofrimento, muito marcado no trecho evangélico, onde Simeão pronuncia a sua profecia sobre o Menino e a sua Mãe: "Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. – e uma espada há de atravessar-lhe a alma" (Lc 2:34-35).
A "salvação" que Jesus traz para o seu povo, e que encarna em si mesmo, passa através da cruz, através da morte violenta que Ele vencerá e se tornará o sacrifício da vida por amor. Esta oblação já foi toda anunciada no gesto de apresentação no Templo, um gesto certamente movido pelas tradições da Antiga Aliança, mas intimamente animada pela plenitude da fé e do amor, que é a plenitude do tempo, à presença de Deus e de Seu Santo Espírito em Jesus. O Espírito, de fato, paira sobre toda a cena da Apresentação de Jesus no Templo, em particular sobre a figura de Simeão, mas também de Ana. É o Espírito “Paráclito”, que traz a “consolação” de Israel e move os passos e o coração daqueles que o esperam. É o Espírito que sugere as palavras proféticas de Simeão e Ana, palavras de bênção, de louvor a Deus, de fé no seu Consagrado, de agradecimento porque, finalmente, os nossos olhos podem ver e os nossos braços apertar "a sua salvação" (cf. 2,30).
"Luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel" (2:32): assim Simeão define o Messias do Senhor, no final de seu canto de bênção. O tema da luz, que ecoa o primeiro e segundo canto do Servo do Senhor em Isaías (cf. Is 42:6; 49,6), tem uma forte presença nesta liturgia. Na verdade, ela foi aberta por uma sugestiva procissão, que contou com a presença dos Superiores e Superioras Gerais dos Institutos de Vida Consagrada aqui representados, que carregaram velas acesas. Este sinal, específico da tradição litúrgica desta Festa, é muito expressivo. Manifesta a beleza e o valor da vida consagrada como reflexo da luz de Cristo; um sinal que recorda a entrada de Maria no Templo: a Virgem Maria, a Consagrada por excelência, levava nos braços a Luz mesma, o Verbo feito carne, que veio para dissipar as trevas deste mundo com o amor de Deus.
Queridos irmãos e irmãs consagrados, todos vocês foram representados nesta simbólica peregrinação, que no Ano da fé expressa ainda mais a sua presença na Igreja, para serem confirmados na fé e renovar a oferta de si mesmos a Deus. A cada um de vocês, e suas instituições, dirijo com afeto as minhas mais cordiais saudações e agradeço por sua presença. Na luz de Cristo, através dos muitos carismas da vida contemplativa e apostólica, vocês cooperam na vida e na missão da Igreja no mundo. Neste espírito de reconhecimento e de comunhão, eu gostaria de dirigir a vocês três convites, para que possam entrar plenamente naquela "porta da fé", que está sempre aberta para nós (cf. Carta apostólica. Porta fidei, 1).
Convido-os, em primeiro lugar, a alimentar uma fé capaz de iluminar a sua vocação. Exorto-os por isso a recordar, como em uma peregrinação interior, do "primeiro amor" com o qual o Senhor Jesus Cristo aqueceu o seu coração, não por nostalgia, mas para alimentar aquela chama. E por isso, precisamos estar com Ele, no silêncio da adoração; e, assim, despertar o desejo e a alegria de compartilhar a vida, as escolhas, a obediência da fé, a bem-aventurança dos pobres, o amor radical. A partir sempre novamente deste encontro de amor vocês deixam tudo para estar com Ele e colocar-se como Ele ao serviço de Deus e dos irmãos (cf. Exortação Apostólica. Ap Vida. Consagrada, 1).
Em segundo lugar, eu convido vocês a uma fé que saiba reconhecer a sabedoria da fraqueza. Nas alegrias e nas aflições do tempo presente, quando a dureza e o peso da cruz são sentidos, não tenham dúvida de que a “kenosis” de Cristo é já vitória pascal. Precisamente no limite e na fraqueza humana, somos chamados a viver a conformação a Cristo, em uma tensão totalizadora que antecipa, na medida do possível, no tempo, a perfeição escatológica (ibid., 16). Nas sociedades da eficiência e do sucesso, a sua vida marcada pela "minoria" e a fraqueza dos pequenos, pela empatia com aqueles que não têm voz, torna-se um evangélico sinal de contradição.
Enfim, eu convido vocês a renovarem sua fé que os torna peregrinos em direção do futuro. Por sua natureza, a vida consagrada é uma peregrinação do espírito, à procura de um Rosto que às vezes se manifesta e às vezes se esconde:, Faciem tuam, Domine, requiram" (Sl 26,8). Este seja o desejo constante de seu coração, o critério fundamental que orienta o seu caminho, seja nos pequenos passos diários que nas decisões mais importantes. Não se unam aos profetas da desgraça que proclamam o fim ou o não sentido da vida consagrada na Igreja dos nossos dias; mas sim vistam-se de Jesus Cristo e usem as armas da luz – como exorta São Paulo (cf. Rm 13,11-14) – permanecendo acordados e vigilantes. São Cromácio de Aquiléia escreveu: "Senhor, salva-nos do perigo para que jamais nos deixemos sobrecarregar pelo sono da infidelidade; mas nos conceda a sua graça e sua misericórdia, para que possamos vigiar sempre na fidelidade a Ele. De fato, a nossa fidelidade está em Cristo" (Sermão 32, 4).
Queridos irmãos e irmãs, a alegria da vida consagrada passa necessariamente através da participação na Cruz de Cristo. Assim foi para Maria Santíssima. O seu é o sofrimento do coração que forma um todo com o Coração do Filho de Deus, traspassado por amor. Daquela ferida brota a luz de Deus, e também dos sofrimentos, dos sacrifícios, do dom de si mesmo que os consagrados vivem por amor a Deus, e deles se irradie a mesma luz, que evangeliza os povos. Nesta festa, desejo especialmente para vocês consagrados, que sua vida tenha sempre o sabor da paresia evangélica, para que em vocês a Boa Notícia seja vivida, testemunhada, anunciada e brilhe como Palavra de verdade (cf. Carta apostólica. Porta fidei, 6). Amém.

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