Dione Dias
Dizem que na roça a vida
passa mais devagar. Talvez seja, porque lá a gente não muda tanto de atividade
durante o dia; é uma rotina bem grande. Em cada época do ano, já é sabido o que
se vai fazer. Quando arar a terra para plantar o milho, mudar o gado de pasto,
tirar lenha do mato, colher o feijão... A primeira vista parecem atividades bem
simples, mas que requerem muita sabedoria, pois, em meio a campo aberto, a
única coisa que se pode ter é fé no céu que está sobre você e é o vento que passa
que diz como será o dia de amanhã, se será de sol ou de chuva.
Vida na roça exige sabedoria
e força. Sabedoria para conhecer o tempo de plantar e força para semear a
terra. A exigência sobre o sertanejo não é fácil. Talvez seja por isso que na roça
não se tem muito tempo para pensar. A vida exige prática. Se não fizer, passará
por dificuldades.
Na roça não tem tempo de
ficar mimando filho. Lá se protege até batizar, mas depois que já se é filho de
Deus, é preciso crescer sozinho. Assim também é com a morte. Chora quando morre
e quando enterra, e depois se alguém sente falta, fica calado e reza, não tem
tempo para ficar murmurando o acontecido. É preciso seguir.
Maldade? Não. A vida do
sertanejo é árida, mãos já calejadas, rosto cansado com olhar sofrido. Não dá
para pedir para parar de fazer sol ou chuva, é preciso encarar de frente e ora
fica molhado de chuva, ora molhado de suor. Criam-se resistências. Não tem
tempo de molezas. É junto com o galo, no cantar dos pássaros, mesmo ainda no
escuro, com um pouco mais de sono e sonho, que larga-se o aconchego da cama e
tem que se ir para lida.
Ser sertanejo não é fácil.
Tem que plantar para colher e, às vezes, na urgência de ver o feijão à mesa,
não se tem muito tempo para apreciar as flores que viram fruto. A fome é de
comida.
Lá se dá bastante valor em
cheiro de feijão que acaba de ser afogado, no vizinho que socorre quando a
dificuldade entra na sua casa, no chá que vira remédio e sai fresquinho lá da
horta feito pela mãe em fogão de lenha, na reza do terço que vira prece de
esperança.
A vida de um homem do campo
requer a mesma gentileza, esperança e robustez com que se trata a terra.
Sertanejo também ama quando
poetisa nas modas de viola sua vida. Poetisa história, causos, contos, mentiras
e verdades. Poetisa assombração que se assombra, sentimento do outro que é seu,
histórias de tristezas tão profundas que duvida-se de sua tragédia... Poetisa
amor que vai, fica e vem...
No final da lida, resta o
calor do fogão a lenha que vira mesa da oferenda da comida e da palavra.
Prepara-se arroz, feijão e conselho. É hora de reunir a família, em volta do
fogo, para purificar nas brasas as dores e fazer de cada “porquê”, motivo de
seguir.
É melhor ir dormir... Deita-se
bem cedo, pois o corpo está cansado do trabalho árduo. Depois de uma noite boa
de sono, no silêncio da terra ou no grito dos grilos, todos acordam melhores.
Da mesma forma que o sol penetra o nevoeiro pela manhã, assim a vida penetra numa
nova vontade de viver.
PASCOM - Paróquia São Sebastião
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SEJA BEM-VINDO, SEU COMENTARIO É UM CARINHO DE DEUS PARA NÓS, E NOS DARA MOTIVAÇÃO PARA CONTINUARMOS COM NOSSA MISSÃO. OBRIGADO POR SEU ELOGIO OU CRITICA. PAZ BEM