terça-feira, 9 de julho de 2013

Sentimento de sertanejo


Dione Dias

Dizem que na roça a vida passa mais devagar. Talvez seja, porque lá a gente não muda tanto de atividade durante o dia; é uma rotina bem grande. Em cada época do ano, já é sabido o que se vai fazer. Quando arar a terra para plantar o milho, mudar o gado de pasto, tirar lenha do mato, colher o feijão... A primeira vista parecem atividades bem simples, mas que requerem muita sabedoria, pois, em meio a campo aberto, a única coisa que se pode ter é fé no céu que está sobre você e é o vento que passa que diz como será o dia de amanhã, se será de sol ou de chuva.
Vida na roça exige sabedoria e força. Sabedoria para conhecer o tempo de plantar e força para semear a terra. A exigência sobre o sertanejo não é fácil. Talvez seja por isso que na roça não se tem muito tempo para pensar. A vida exige prática. Se não fizer, passará por dificuldades.
Na roça não tem tempo de ficar mimando filho. Lá se protege até batizar, mas depois que já se é filho de Deus, é preciso crescer sozinho. Assim também é com a morte. Chora quando morre e quando enterra, e depois se alguém sente falta, fica calado e reza, não tem tempo para ficar murmurando o acontecido. É preciso seguir.
Maldade? Não. A vida do sertanejo é árida, mãos já calejadas, rosto cansado com olhar sofrido. Não dá para pedir para parar de fazer sol ou chuva, é preciso encarar de frente e ora fica molhado de chuva, ora molhado de suor. Criam-se resistências. Não tem tempo de molezas. É junto com o galo, no cantar dos pássaros, mesmo ainda no escuro, com um pouco mais de sono e sonho, que larga-se o aconchego da cama e tem que se ir para lida.
Ser sertanejo não é fácil. Tem que plantar para colher e, às vezes, na urgência de ver o feijão à mesa, não se tem muito tempo para apreciar as flores que viram fruto. A fome é de comida.
Lá se dá bastante valor em cheiro de feijão que acaba de ser afogado, no vizinho que socorre quando a dificuldade entra na sua casa, no chá que vira remédio e sai fresquinho lá da horta feito pela mãe em fogão de lenha, na reza do terço que vira prece de esperança.
A vida de um homem do campo requer a mesma gentileza, esperança e robustez com que se trata a terra.
Sertanejo também ama quando poetisa nas modas de viola sua vida. Poetisa história, causos, contos, mentiras e verdades. Poetisa assombração que se assombra, sentimento do outro que é seu, histórias de tristezas tão profundas que duvida-se de sua tragédia... Poetisa amor que vai, fica e vem...
No final da lida, resta o calor do fogão a lenha que vira mesa da oferenda da comida e da palavra. Prepara-se arroz, feijão e conselho. É hora de reunir a família, em volta do fogo, para purificar nas brasas as dores e fazer de cada “porquê”, motivo de seguir.
É melhor ir dormir... Deita-se bem cedo, pois o corpo está cansado do trabalho árduo. Depois de uma noite boa de sono, no silêncio da terra ou no grito dos grilos, todos acordam melhores. Da mesma forma que o sol penetra o nevoeiro pela manhã, assim a vida penetra numa nova vontade de viver.

PASCOM - Paróquia São Sebastião

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