sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Anarquia “representativa” do Brasil



Euder Daniane Canuto Monteiro

Nos últimos meses o Brasil teve riquíssimas oportunidades para entrar num debate nacional e até internacional acerca do seu regime político vigente, mas ainda assim preferimos ficar na superfície. Há na nossa história nacional, nós sabemos, períodos de monarquia e de ditadura militar. É preciso ainda reconhecer que houve também grandes conquistas no sentido de implementar e fortalecer no Brasil um regime democrático, a tão sonhada Democracia Representativa. Mas, permitam-me uma pergunta: é este regime que ainda está vigorando no Brasil? Outro dia indo almoçar com um casal amigo, o esposo, um senhor idoso, experiente, me apontou uma possível resposta, que quero partilhar com vocês pelo menos em parte.

Talvez em algum momento na história tenha-se vivido de fato o que nossa Constituição de 1988, tão bem elaborada e com a participação de tantos homens e mulheres de bem, reza. Prefiro crer que sim. Entretanto, de todas as nossas inquietações e insatisfações a que mais parece estar como pano de fundo de todas elas é uma questão mais séria: vivemos uma Democracia, um poder que emana do povo e constitui alguns cidadãos como seus vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidentes, seus representantes legítimos, seja no Legislativo ou Executivo?

Defendo o ideal da Democracia Representativa e penso que é o Regime que atenderia realmente a nossa população. Mas, lamento constatar que não é este o Regime que estamos vivendo. Vejam o último acontecimento, um representante do povo foi punido por corrupção pelo Supremo Tribunal Federal, mas pela Câmara dos Deputados foi absolvido da causa na qual estava em questão a perda de seu mandato. Que democracia é esta? Quando, por ocasião das manifestações, muitos eram os gritos de ordem no sentido mesmo de “colocar ordem na casa”, mas qual foi uma das reações mais comuns, enfatizar que as manifestações não tinham propósito, e, com isso, desacreditar as grandes reivindicações, aproveitando daquelas infelizes “ondas de vandalismo” que algumas minorias insistiam em repetir. Bem público é bem do povo. É contradição reivindicar mudanças e lutar contra a corrupção, corrompendo o que já não é mais construído com o suor, mas com o sangue dos trabalhadores brasileiros. Entretanto, depois de algum alvoroço nas casas do Legislativo tudo voltou ao normal e o povo também voltou, pelo que parece, a repousar na sua indignação.

Pensando nestas coisas, aquele senhor de que falei, dizia que vivemos no Brasil uma “Anarquia Corrupta”. Utilizando-me de sua inspiração, pedi a permissão para trocar os termos e dizer que tudo indica que vivemos mesmo uma Anarquia Representativa. Um representante político tem a missão de representar o povo do qual o seu poder emanou, mas, na realidade, ele representa bem o próprio interesse político, econômico ou social. Há negociações contínuas em prol destes mesmos interesses. Há trocas de cargos em vista de votos a favor ou contra às propostas do Executivo ou mesmo entre as propostas dos próprios companheiros de trabalho com vistas a alguma vantagem pessoal ou política. Além disso, há também a triste constatação de que a maioria dos políticos, sobretudo deputados e senadores, conseguem votos com apoio e doação dos empresários, da elite econômica ou de algum grupo, inclusive religioso. Por isso, quando eleitos, não defendem os interesses do povo, que deu o voto, mas de quem bancou sua candidatura.

Devemos nos perguntar, onde está a atenção e a escuta aos clamores e necessidades do povo: mais saúde, mais médicos, mais educação, mais respeito... 513 deputados ganham quase 40 salários mínimos por mês sem contar seus auxílios extras. Isso é profundamente desrespeitoso! Chega a ser absurdo. Mas, parece que é tudo normal. “É isso aí”, como diz uma música da qual me recordo dos tempos de “operário de caixa” num supermercado. Como se ela dissesse, exigisse que me acomodasse. Nada muda, você não muda nada, é isso aí...
 
A conclusão é simples: parece que não há de fato Democracia. A obrigação do voto seria muito mais positiva se houvessem candidatos que respondessem às necessidades da população. Mas há de se pensar que voto obrigatório em candidatos sem nenhum interesse real e histórico pelo bem comum é apenas uma estratégia de dominação, que com a aparência de democracia, reforça a nossa desorganização permanente de reação aos absurdos que vêm se repetindo como espetáculo para os grandes e triste tragédia para os que mais necessitam desse regime. Anarquia corrupta ou Anarquia representativa? O que dizer? Reajam os “democráticos”. A oratória é o melhor lugar através da qual se defende, “com unhas e dentes” que esse “negócio” ainda existe. Bom 7 de setembro para todos, cidadãos comuns e super cidadãos (nossos representantes)!

PASCOM - Paróquia São Sebastião

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