“Grande sinal apareceu no céu: uma mulher que tem o sol por manto, a lua
sob os pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça.” (Ap 12, 1)
Neste domingo celebramos uma festa muito cara às tradições mineiras: a
festa de Maria, quando ela é assumida, em corpo e alma, para o céu.
Relembro de minha terra natal, a cidade de Boa Esperança, que nasceu sob
a proteção do manto santo e abençoado da Virgem Dolorosa, a mater
que soube, no silêncio de seu coração, guardar a vontade de Deus, dando
o seu “Fiat” ao projeto da salvação de nossa pobre e pecadora
humanidade.
A solenidade deste domingo é uma grande festividade de louvor a Maria
Santíssima por parte dos fiéis, que vêem, ao mesmo tempo, a glória da
Igreja e a prefiguração de sua própria glorificação. Festa grande, festa
de solidariedade dos fiéis com aquela que é a primeira e a Mãe de todos
os fiéis.
A leitura do Apocalipse, colocada como primeira leitura(Ap
11,19a;12,1.3-6a.10ab), é uma descrição original do povo de Deus, que
deu à luz o Salvador e depois refugiou-se no deserto – a Igreja que foi
perseguida e massacrada pelos romanos no primeiro século – até a vitória
final de Nosso Senhor Jesus Cristo. A segunda leitura (1Cor 15,20-27a)
é, toda ela, escatológica, com gostinho de céu: a Assunção de Nossa
Senhora ao céu é considerada como antecipação da ressurreição final dos
fiéis, que serão ressuscitados em Cristo. Portanto, observe-se que a
glória de Maria não a separa da humanidade, não a separa de cada um de
nós, mas a une mais intimamente a nossa pobre humanidade.
A Assunção é uma forma privilegiada de Ressurreição.
Tem a sua origem na Páscoa de Jesus e manifesta a emergência de uma
nova humanidade, em que Cristo é a cabeça, como novo Adão. Todo o
capítulo 15 desta carta paulina é uma longa demonstração da
ressurreição. Na passagem escolhida para a festa da Assunção, o apóstolo
apresenta uma espécie de genealogia da ressurreição e uma ordem de
prioridade na participação neste grande mistério. O primeiro é Jesus,
que é o princípio de uma nova humanidade. Eis porque o apóstolo o
designa como um novo Adão, mas que se distingue absolutamente do
primeiro Adão; este tinha levado a humanidade à morte, ao passo que o
novo Adão conduz aqueles que o seguem para a vida. O apóstolo não evoca
Maria, mas se proclamamos esta leitura na Assunção, é porque
reconhecemos o lugar eminente da Mãe de Deus no grande movimento da
ressurreição.
Irmãos e irmãs,
Nossa Senhora foi a única criatura humana a receber esse grande
benefício do Criador, a encarnação do Verbo. Isso porque, por obra e
graça do Espírito Santo, coube a ela o serviço de receber a encarnação
do Senhor, do Filho de Deus, predestinada desde sempre, isenta de todo o
pecado desde a sua concepção imaculada, preservada de toda mancha do
pecado original. Tornou-se, assim, a primeira criatura na fé cristã e a
primeira a ser elevada à glória do céu em corpo e alma, graça inaudita
alcançada pela Ressurreição de Jesus.
Maria é o modelo para todo cristão, de todos os
fiéis; a primeira a alcançar o destino glorioso reservado a todos que
crêem no Senhor Jesus. Maria a co-redentora, a santa, a luzeira dos
cristãos. Maria, a esperança dos cristãos.
Meus queridos irmãos,
Maria saiu de si mesma, renunciou a seus interesses para servir com
exclusividade o mistério de Cristo. Ela desceu, durante a sua vida
terrena, aos vales da humanidade pecadora, fazendo-se, como seu Filho,
solidária com os irmãos, assumindo a condição de serva, humilhando-se em
tudo. Depois, ela subiu com Ele a noite escura do Calvário, alcançou a
manhã solar da Ressurreição, da Páscoa, da vida nova que nos foi
inaugurada, cantando uma segunda vez o “Magnificat”, para agradecer a
glorificação da humildade e da pequenez, a vitória sobre o pecado e a
morte eterna, as grandes coisas operadas por Deus em benefício seu e da
humanidade.
Se o “Magnificat” é o hino de agradecimento a Deus pela encarnação e
pela obra redentora de Jesus Cristo, tudo o que Maria tem a agradecer a
Deus o tem em função do mistério divino-humano de Jesus. Sua coroação
como rainha do Céu e da terra é o coroamento de tudo o que ela cantou na
casa de Isabel.
Assim, o “Magnificat” se desenvolve em quatro tempos: o primeiro,
onde Maria agradece ao Senhor “a quem se deve à honra e a glória pelos
séculos dos séculos”. Aqui é colocado a serviço como meta básica da vida
cristã. Trabalhar com humildade para a dilatação do Reino de Deus.
Humildade como virtude, humildade como meta cristã. A Virgem que
recebeu, em Nazaré, o Filho de Deus hoje é elevada ao seio da Santíssima
Trindade. O segundo tempo, onde a Virgem agradece as maravilhas
operadas em todas as coisas, as maravilhas da história da nossa
salvação, onde o Deus santo e eterno nos convoca para a santidade de
vida e de estado. O terceiro tempo proclama a missa fundamental de Nosso
Senhor: a ação de Deus em favor dos pobres e dos humildes, que tem a
sua meta básica em Nossa Senhora que se despiu de tudo para servir e
servir com alegria. Com o despojamento de Maria no seu sim, hoje elevada
ao céu, leva consigo todos os pobres, filhos prediletos do Pai e
comensais da casa divina.
O último tempo, em forma de louvor e de agradecimento, celebra a
FIDELIDADE DE DEUS, o cumprimento de todas as promessas. Fidelidade a
Deus e ao seu projeto de salvação, onde a humanidade se torna bom
parceiro de Deus na história da salvação. Subindo aos Céus, Maria é
considerada a primeira que teve acesso a esta fidelidade, que se
transforma em comunhão perfeita e eterna com a Trindade Santíssima.
Caros irmãos,
Nesta solenidade queremos aprender da Virgem Assunta ao Céu rezar com
ela: primeiro rezando por Maria, segundo rezando com Maria e terceiro
rezando como Maria.
- Rezar por Maria. Frequentemente, ouvimos a expressão: “rezar à Virgem Maria”… Esta maneira de falar não é absolutamente exata, porque a oração cristã dirige-se a Deus, ao Pai, ao Filho e ao Espírito: só Deus atende a oração. Os protestantes recordam-nos que Maria é e se diz ela própria a Serva do Senhor. Rezar por Maria é pedir que ela reze por nós: “Rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte!” A sua intervenção maternal em Caná resume bem a sua intercessão em nosso favor. Ela é nossa “advogada” e diz-nos: “Fazei tudo o que Ele vos disser!”
- Rezar com Maria. A Virgem Maria está ao nosso lado para nos levar na oração, como uma mãe sustenta a palavra balbuciante do seu filho. Na glória de Deus, na qual nós a honramos hoje, ela prossegue a missão que Jesus lhe confiou sobre a Cruz: “Eis o teu Filho!” Rezar com Maria, mais que nos ajoelharmos diante dela, é ajoelhar-se ao seu lado para nos juntarmos à sua oração. Ela acompanha-nos e guia-nos na nossa caminhada junto de Deus.
- Rezar como Maria. Aprendemos junto de Maria os caminhos da oração. Na escola daquela que “guardava e meditava no seu coração” os acontecimentos do nascimento e da infância de Jesus, nós meditamos o Evangelho e, à luz do Espírito Santo, avançamos nos caminhos da verdade. A nossa oração torna-se ação de graças no eco ao Magnificat. Pomos os nossos passos nos passos de Maria para dizer com ela na confiança: “que tudo seja feito segundo a tua Palavra, Senhor!”
Irmãos queridos,
A vida de Nossa Senhora, a “serva” assemelha-se à do “servo”, Jesus,
“exaltado” por Deus por causa de sua fidelidade até a morte. O amor
torna semelhantes às pessoas. Também a glória. Em Maria, realiza-se,
desde o fim de sua vida na terra, o que Paulo descreve na segunda
leitura: a entrada dos que pertencem a Cristo na vida gloriosa do Pai,
uma vez que o Filho venceu a morte e nos deu a vida eterna.
A comunhão com Deus nos faz lembrar hoje do exemplo da Virgem Maria
que aprendeu a ler os acontecimentos e a perceber neles a ação de Deus
libertando o seu povo. Percebeu-se, também, como parte importante nessa
grande obra. Por isso invoquemos Maria como modelo do cristão que vai
crescendo na sua resposta ao projeto de Salvação.
Santa Maria, rogai por nós. Amém!
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