domingo, 4 de maio de 2014

ILUSTRE DESOCONHECIDO

Débora Ireno Dias

Sempre nos deparamos com avisos sobre desaparecidos, seja nas redes sociais, seja na imprensa. Fico olhando a fisionomia para ver se “já vi” tal pessoa desenhada ou retratada. Fico imaginando a dor e a angústia dos que perderam um ente, sem ter notícias há dias ou meses. Anos até! Fico imaginando a angústia dos perdidos!

Um senhor dos seus 80 para mais apareceu na rua de meus pais. Os vizinhos logo se prontificaram em ajudar porque perceberam que algo não estava certo. Sem lenço nem documento, só falava seu primeiro nome. Vi a cena e pensei que poderia ser com qualquer um dos nossos que já se encontram em idade avançada. Após algumas horas, o serviço de Assistência Social da prefeitura o recolheu e, devido às fotos que postei na rede social, alguém o reconheceu e ele foi reintegrado à família. Final feliz! Ficamos felizes! (Obrigada a todos que compartilharam as fotos.)

Após o acontecido, deparei-me com a notícia de um jovem que se retirou da cidade e se despediu da vida. E aí vem outra notícia, de um jovem que há muito era empresário, mas que hoje perambula pelas ruas (sobre)vivendo da ajuda alheia e do seu próprio vício.

Três situações extremas, diferentes, mas com algo em comum: por algum motivo, perderam sua identidade. O senhor não se reconhece, não se lembra, não fala coisa com coisa sobre seu passado, que certamente já se perdeu nas memórias. Um jovem que, por algum motivo alheio a nós, não mais se reconheceu como família, como amigo, como profissional, perdeu-se em meio a dúvidas e incertezas, perdeu-se no medo. O outro jovem ainda sorri, mas sua alegria já se perdeu no tempo, quando ainda conseguia viver e ser um alguém que não dependia de seu vício.

O primeiro conseguiu ser ajudado. Através do olhar atento de alguns, outros o reconheceram e o levaram de volta para sua vida. O segundo e o terceiro não sei. A exemplo dos três, o que percebo são muitos jovens de nossa cidade, comunidade, vizinhança perambulando por aí, sem se saber, sem saber ser, sem falar coisa com coisa, sem alguém que os olhe, que os direcione para um bom caminho, que os acolha.

É mais que necessário, é urgente que haja alguma ação de nossa parte, da sociedade como um todo, a começar pela própria família – principalmente por ela – para que não tenhamos mais jovens perambulando, perdendo-se no tempo e no espaço, não mais se reconhecendo, perdendo seus sonhos, angustiando-se nos medos, fazendo medo!

Entristece-me ver jovens conhecidos tornando-se desconhecidos de si mesmos! Quem os olhará? Quem os acolherá?

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