Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares-PE
Celebraremos com toda a Igreja, no próximo domingo, 1, a Solenidade da Ascensão do Senhor - em alguns países, porém, celebrada na quinta-feira que delineia exatos 40 dias após a Páscoa. Para enriquecer a nossa meditação, reproduziremos, já no próximo parágrafo, uma homilia de dom Henrique Soares da Costa, bispo de Palmares-PE, escrita no ano de 2009, por ocasião da celebração da Solenidade da Ascensão naquele ano. Vale a pena lê-la na íntegra. Boa leitura.
" At 1,1-11
Sl 46
Ef 1,17-23
Mt 28,16-20
Estamos ainda nos dias pascais, nas alegrias da
Ressurreição do Senhor. A Solenidade que hoje celebramos - a Ascensão - e
aquela do Domingo próximo - Pentecostes - são ainda dimensões, aspectos do
mistério da Páscoa:
ressurreição,
subida ao céu e dom do Espírito são três aspectos do mesmo mistério.
Celebramo-lo num arco de cinquenta dias porque, enquanto o Senhor Jesus deixou
este nosso tempo, feito de ontens, de hojes e de amanhãs, nós continuamos
presos às horas, dias, meses e anos deste mundo...
Eis: Jesus ressuscita no Pai; não ressuscita para
depois ir ao seu Deus e Pai! Ressuscitar é, precisamente, sair da morte,
entrando na vida plena, que é o Pai. (Nunca esqueçamos: o Pai é nossa Vida, o
Pai é nosso Céu! Também o foi e o é para Jesus)! Isso aparece claro em alguns
textos dos próprios evangelhos. Em Lc 24,44, Jesus ressuscitado, conversando,
com seus apóstolos e sendo tocado por eles, diz claramente que com eles não
está mais: “São estas as palavras que eu vos falei quando estava
convosco...” No próprio Evangelho deste hoje, o Senhor, aparecendo aos
seus sobre o monte, dá a entender que já está no céu: “Toda autoridade
me foi dada no céu e na terra!” Vede: ele já recebeu tal autoridade,
também no Céu! Ele, durante quarenta dias apareceu aos seus, mas já não estava
entre os seus! Seu novo modo de permanecer conosco é na potência do seu
Espírito, também fruto da sua ressurreição e da entrada no Pai...
Se é assim, qual o sentido desta Solene Ascensão do
Senhor? Eis o seu significado, tão importante para nós e para a nossa salvação:
na Ressurreição, Jesus foi glorificado na sua pessoa, isto é, em si mesmo. Na
Ascensão, aparece o que sua Ressurreição significa para nós, o que o Cristo se
torna em relação a nós. Em primeiro lugar, a Ascensão marca o fim daquele
período de encontros que o Ressuscitado teve com seus discípulos para
fortalecer-lhes a fé e explicar-lhes a missão. É, portanto, uma despedida! Como
já foi dito, a partir desse momento o Senhor estará com os seus e poderá ser
por eles percebido de uma forma nova: na potência do seu Espírito Santo,
presente na força da Palavra anunciada e nos sacramentos da Igreja. É assim que
a Ascensão abre caminho para o Pentecostes, quando o Espírito, de um modo
visível e barulhento, marca a inauguração da missão da Igreja, que é
testemunhar e anunciar o Senhor, tornando-o presente nos gestos sacramentais.
Segundo: a Ascensão nos revela aquilo que aconteceu
no Céu com Jesus e que, na terra, somente pela fé podemos saber e crer, isto é,
sua glorificação como Senhor do Céu e da terra, Senhor da história humana e da
Igreja. Ele ressuscitou e subiu ao Céu para tudo recapitular e de tudo ser a
Cabeça, fonte de vida e salvação! São Paulo nos disse na segunda leitura que “o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória
ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos e fê-lo sentar-se à sua direita nos
céus. Ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, Cabeça
da Igreja, que é o seu corpo...” É assim que hoje, cheios de alegria,
proclamamos Jesus ressuscitado como Cabeça de toda a criação, Cabeça da
humanidade toda, Cabeça e sentido da história humana. E tudo isso ele o é
enquanto Cabeça da Igreja, que é o seu Corpo! Isso significa que toda a criação
caminha para ele e nele será um dia glorificada; que toda história somente nele
encontra a direção e o sentido profundo; e que a Igreja participa, de modo
indissolúvel, da sua obra universal de salvação! Se toda salvação neste mundo
somente pode vir através de Cristo, vem desse Cristo que é, inseparavelmente,
Cabeça da Igreja. Assim, podemos e devemos dizer que sem o ministério da Igreja
não há salvação possível! Isso mesmo: fora da Igreja não há salvação, porque
ela é o Corpo do Cristo, sua Cabeça e único Salvador. Em outras palavras: todo
ser humano de boa vontade e consciência reta pode salvar-se, mas pode-o somente
porque Cristo, Cabeça da Igreja, morreu e ressuscitou e está à Direita do Pai
em favor de toda a humanidade e age através da Igreja em benefício de todo ser
humano, até de quem não crê nele!
Em terceiro lugar, glorificado, o Senhor é nosso
Juiz! Para ele caminham a história humana e as nossas histórias. Somente ele
pode ver nosso caminho neste mundo com seu sentido profundo, somente ele nos
julgará, porque, à Direita do Pai, somente ele abarca toda a história com o seu
Espírito e desvela seu sentido pleno; somente nele nossos pobres dias podem
encontrar o Dia sem fim, o Dia pleno da glória eterna! Quarto: desaparecendo de
nossa vista humana, ele nos dá o seu Espírito, inaugurando um novo modo de
estar presente entre nós, mais profundo e eficaz: agora ele nos é interior, age
em nós pela energia do seu Espírito Santo: “Eis que eu estarei convosco
todos os dias, até o fim do mundo!” – Essa promessa não é palavra
vazia; é, sim, uma impressionante realidade! E é nesse Espírito que ele consola
a Igreja e a guia na missão pelas estradas do mundo. Em quinto lugar, sua
presença na glória, à Direita do Pai, o constitui para sempre como nosso
Intercessor, como diz o Autor da Epístola aos Hebreus: “Cristo entrou
no próprio céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso
favor!” (9,24). Eis como é grande a nossa certeza, como é profunda a
nossa esperança, como é certo o nosso caminho: temos um Irmão nosso, um de
nossa raça à Direita do Pai, intercedendo por nós!
Caríssimos, a hodierna Solenidade é também nossa
festa e motivo de alegria para nós! Aquele que hoje sentou-se à Direita do Pai
é o Filho eterno feito homem, é um de nós! Que coisa impressionante: hoje, a
nossa humanidade foi colocada acima dos Anjos! Aquele que, como Deus, foi
colocado no presépio e no sepulcro, hoje, como homem, foi colocado acima dos
anjos, à Direita do próprio Pai! Ora, alegremo-nos: onde já está o Cristo,
nossa Cabeça, estaremos um dia todos nós, membros do seu Corpo! Era isso que
rezava a oração inicial da Missa de hoje: “Ó Deus todo-poderoso, a
ascensão do vosso Filho já é a nossa vitória: membros do seu corpo, somos chamados
a participar da sua glória!” E a oração que faremos após a comunhão
dirá claramente que junto do Pai já se encontra a nossa humanidade, no Cristo
glorificado.
Irmãos e irmãs! Elevemos o olhar para o céu: à
Direita do Pai, Deus como o Pai, encontra-se o homem Jesus, nosso irmão, um de
nossa raça... Ele é o objetivo para o qual se dirigem a nossa existência e a
historia humana, ele é o nosso Juiz, ele é o nosso Intercessor! Que nossa vida,
neste mundo que passa, seja cheia do gosto da eternidade, porque nele, nossa
esperança é certíssima! Não temamos: aquele que está no céu faz-se ouvir nas
Escrituras e se nos dá em comunhão na Eucaristia para que o experimentemos, o
anunciemos e o testemunhemos, até sermos plenamente unidos a ele quando aparecer
em sua glória e entregar o Reino a Deus seu Pai. “Jesus Cristo é o
mesmo, ontem e hoje; ele o será por toda a eternidade” (Hb 13,8). Amém.".
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