quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Liberdade de expressão ou de opressão?

O mundo todo está atônito frente às múltiplas manifestações prós e contras relativas ao que aconteceu na França nas últimas semanas. Jornalistas foram mortos por fanáticos que se dizem ofendidos na honra religiosa de Maomé, o profeta que criou o Islã e que propugnou o islamismo na terra. Fizeram-no sem autorização do próprio Islã que, em sua origem, não prega a pena de morte para ninguém. Não se mata em nome de Deus ou de religião alguma. Isto vale para qualquer credo ou para todo pensamento sadio em matéria do espiritual ou do humano. Em contrapartida, do presidente aos grupos radicais contra a presença dos muçulmanos na França, hoje mais de 6 milhões_ maioria pobre e indefesa_, a ofensiva é sem medidas para aquelas comunidades migrantes, pobres e marginalizadas, por não serem francesas, por não cultuarem o pensamento ocidental de dominação e por não terem o mesmo aparato de Estado de defesa.

Sabiamente, o papa Francisco disse corajosamente: “ Não se use o nome de Deus para matar e nem a liberdade de expressão para ofender”. Isso  não é relativizar a questão, como bradou certo jornalista de uma televisão brasileira, nem é fugir ao compromisso ético  de respeito aos povos e à sua liberdade religiosa e cultural. A ministra da justiça da França disse, desarvoradamente, que, na França, todos podem opinar ao bel-prazer em qualquer tipo de matéria seja ela religiosa, cultural e de toda índole, porque naquele país são livres até para desrespeitar o senso comum  da verdade, da justiça e da paz, pilares da democracia. A igualdade, fraternidade e liberdade, conforme os próprios e genuínos franceses e pensadores dos tempos passados, são bandeira de revolução para o bem da humanidade e não para destruir os caminhos que a democracia  já venceu ou batalha até hoje.

Muito teremos que empreender para ver acontecer a tão esperada fraternidade universal e muito temos a contribuir para traduzir os anseios de paz de que tanto se necessita. Já era para os seres humanos terem aprendido o respeito ao outro, a alteridade e a capacidade de somar esforços para que todos tenham lugar ao sol da vida. A liberdade de expressão pode colaborar e muito para com a construção de um mundo melhor, fomentando ideais e projetos em favor da vida e do planeta; mas não pode ser subterfúgio nocivo à  liberdade humana de viver e de ser diferente na religião, na política e na  arte de conviver. Temos muito ainda a aprender e a edificar na sociedade atual e nos seus quase infinitos modos de ser.

Pe. Paulo Barbosa
Pároco na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Congonhas e
Diretor do Departamento Arquidiocesano de Comunicação



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