Entenda a Solenidade de Pentecostes como um acontecimento da salvação
Padre Anderson Marçal
Comunidade Canção Nova
Pentecostes: a consequência de um evento bem sucedido
No oitavo domingo dos cinquenta dias pascais, celebra-se a efusão do
Espírito Santo sobre a Igreja. O significado deste domingo nos é dado
pelo prefácio do Missal Romano: “Hoje se completou o mistério pascal e
sobre aqueles que fez filhos de adoção em Cristo teu Filho, efundiu o
Espírito Santo, que na Igreja nascente revelou a todos os povos o
mistério escondido nos séculos e reuniu todas as línguas da família
humana em uma profissão de uma única fé”.
O Pentecostes cristão não é a festa do Espírito Santo, entendido como
Pessoa Divina em si mesma, mas a celebração de um acontecimento de
salvação, ou seja, de uma das tantas intervenções de Deus, que na
realização do plano da salvação decidem em modo único e definitivo das
coisas do mundo. Este evento consiste sobretudo no dom do Espírito
Santo.
O sentido do Pentecostes, como acontecimento de salvação, se dá pelos seguintes aspectos:
a) Efusão do Espírito Santo como sinal dos últimos tempos. Pedro cita
o profeta Joel, evidenciando como o Pentecostes realiza as promessas de
Deus, segundo as quais nos últimos tempos o Espírito seria dado a todos
(cf. Ez 36,27). Os Santos Padres compararam este batismo no Espírito
Santo, que marca a investidura apostólica da Igreja, ao batismo de
Jesus, o qual marcou o início do ministério publico do Senhor. O
Pentecostes, por isso, foi visto pelos Padres como o dom da nova lei à
Igreja, segundo os anúncios proféticos (cf. Jr 31,33; Ez 36,27). A lei
da Igreja, de fato, não é mais a lei escrita, mas o próprio Espírito
Santo, como afirma o apóstolo Paulo (cf. Rm 5,5).
b) Coroação da Páscoa de Cristo. A catequese primitiva colocava em
relevo que o Cristo morto, ressuscitado e glorificado à direita do Pai,
leva a termo a sua obra de salvação efundindo o Espírito sobre a
comunidade apostólica. O Pentecostes portanto, é a plenitude da Páscoa, o
mistério pascal total.
c) Reunião da comunidade messiânica. O Pentecoste realiza em
Jerusalém a unidade espiritual dos judeus e dos prosélitos de todas as
nações, dóceis ao ensinamento dos apóstolos, estes participam, na
comunhão fraterna, na mesa eucarística e na oração comum. O Pentecostes,
porém, não é o início ou o nascimento da Igreja, se entendemos por
início a sua constituição ou a sua instituição: estas foram sendo
atualizadas durante a vida de Jesus, enquanto Ele anunciava o evangelho,
revelava o Pai, instituía o apostolado dos Doze, fundava o primado de
Pedro, inaugurava os sacramentos, etc. O Pentecostes é precisamente a
vinda ao mundo da Igreja. “Vinda ao mundo” no sentido no qual se diz de
uma criança que vem ao mundo, ou seja, que depois de ser gerada no seio
materno, vem à luz e começa a conduzir a própria existência.
d) Comunidade aberta a todos os povos. O fato que gente de diferente
língua compreenda a língua na qual falam os apóstolos diz que a primeira
comunidade messiânica se estenderá a todos os povos. A divisão operada
em Babel (cf. Gn 11,1-9) encontra aqui a sua antítese e o seu término
positivo. O milagre de Pentecostes é por isso a resposta divina à
confusão e à dispersão.
e) Envio em missão. O Pentecoste reúne a comunidade messiânica e
marca o ponto de partida da sua missão. O discurso de Pedro é o primeiro
ato da missão confiada por Jesus aos apóstolos e que hoje é a mesma
para cada um de nós. “Recebereis uma força, o Espírito Santo… Então
sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até
os confins do mundo” (At 1,8).
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